A economia circular no presente e no futuro da indústria têxtil nacional

Por Sandra Dias

Maria José Carvalho do Cluster Têxtil, Citeve, fala em entrevista da evolução do sector têxtil português. Economia circular e ecodesign revelam o futuro.

Por Sandra Dias

A sustentabilidade e a economia circular estão no topo da agenda da indústria têxtil nacional. Perspectivam-se desafios e soluções que prometem mudar radicalmente este sector. Quisemos saber mais e entrevistamos Maria José Carvalho, um dos rostos do Citeve (Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal), que acompanha de perto a evolução das empresas têxteis há quase trinta anos.

Maria José fala-nos com o conhecimento e a experiência de engenheira têxtil que se dedica às questões ambientais relacionadas com esta indústria desde o seu último ano da faculdade. O que a levou até ao Citeve para um estágio curricular no último semestre do quinto ano da sua licenciatura. Na altura, o seu projeto incidia na poupança de água numa tinturaria. Com o qual, apoiada pelo Centro Tecnológico, conseguiram uma redução significativa do consumo de água nos processos de tingimento.

Décadas depois fala com o mesmo entusiasmo de quando começou. O seu conhecimento em matéria de sustentabilidade e economia circular é vastíssimo e o seu percurso profissional dentro do Centro Tecnológico reforça a sua autoridade nesta matéria. Maria José, nas últimas décadas, transitou por diferentes áreas dentro do Citeve, como a certificação, a sustentabilidade e a formação, apenas para referir algumas.

Nesta entrevista faz uma reflexão sobre as inovações atuais e futuras da indústria têxtil portuguesa. Apresenta-nos as áreas de atuação do Citeve, tão importantes para este sector. Que fomenta o acelerar da inovação e promove a captação de valor na transformação da indústria. Cujo papel ajuda a identificar muitas oportunidades de empreendimentos impactantes. No sentido de promover o desenvolvimento de soluções e o caminho a seguir para todas as partes interessadas.

O resultado desta entrevista antevê um cenário de inovação que se estende dos novos materiais alternativos ao ecodesign e à moda enquanto serviço. Sem deixar de parte a importância das certificações ligadas à indústria têxtil. Considerando também a interação de valores individuais, sociais, económicos e políticos que unem o sector. Num momento em que a evolução na indústria têxtil se altera profundamente e a Comissão Europeia prepara-se para apresentar a nova estratégia para os têxteis sustentáveis, inserida no Green Deal (Pacto Ecológico Europeu).

À medida que a demanda do consumidor e a pressão regulatória aumentam, também os líderes deste sector reconhecem a necessidade urgente de práticas responsáveis. E procuram um modelo mais sustentável e circular com a intercepção do conhecimento colaborativo. Maria José encontra-se atualmente a exercer funções no Cluster Têxtil, um dos ramos do Citeve. Onde se reúnem os principais intervenientes, a academia, a indústria e as associações têxteis. Que em conjunto podem provocar a ruptura com o passado, expressar o presente e projetar o futuro.

Esta entrevista foi editada e condensada para facilitar a leitura.

Maria José Carvalho | Cluster Têxtil, Citeve

Pode descrever-nos de uma forma geral as áreas em que o Citeve atua?
Vou falar-lhe de quatro ou cinco partes distintas. Existe uma parte que faz os ensaios laboratoriais necessários, quer para o controlo de qualidade e de verificação de performance. Temos uma área forte de investigação, desenvolvimento e inovação. Que tenta responder sempre às necessidades que existam no sector. No sentido de desenvolver produtos e/ou serviços para o mercado. É a aplicação do conhecimento ao sector têxtil. E aí temos de facto uma componente muito elevada. Cada vez mais na área da economia circular, da sustentabilidade, e agora também mais recentemente na área da indústria 4.0.

A outra área é a consultoria que damos às empresas. Aí dando resposta também a casos mais concretos de serviços específicos que o Citeve pode dar a essas empresas. Temos a área formativa. Damos formação a vários níveis, como a formação a quadros das empresas, no sentido de fazer a reciclagem de conhecimento e introduzir novas temáticas. Temos uma escola tecnológica que forma alunos de quadros intermédios – técnico intermédios para a indústria têxtil. E ainda temos o Cluster Têxtil, que é onde eu estou neste momento.

Qual é a função do Cluster Têxtil?
O Cluster Têxtil (CT) está inserido dentro do Citeve e é um cluster que reúne as diferentes partes interessadas do sector. Essencialmente empresas mas também o sistema científico e tecnológico onde estão as Associações do sector, as Universidades e Institutos. Portanto, são membros que fazem parte do cluster e a ideia é reunir neste grupo partes interessadas, associadas com o CT e com toda a sua cadeia de valor. Onde criamos os SIG (Special Interest Group), divididos em cinco temáticas. Que têm a ver com a sustentabilidade: a bio economia circular; a digitalização; os skills; a performance; e com o design para a performance e para a circularidade.

Os elementos desses diferentes grupos reúnem-se para discutir aquilo que é relevante, para definir qual será a estratégia, quais são as ferramentas e o que pode ser importante para o sector nestas vertentes. Permite também conhecermos os outros. Quando há a necessidade de desenvolver um projeto, de ir buscar as pessoas destes grupos para desenvolver. De criar interações entre eles. O CT tem esta função de integrar, de criar aqui um polo de ligação. E a outra vantagem é poder levar uma voz única, até para o exterior. Uma voz única que representa aquilo que são as vontades e os interesses do próprio sector.

Em Portugal temos, à semelhança da indústria Italiana, desde a fiação à confecção, dos acessórios à moda. No entanto, o sector parece que vive de costas voltadas. O Cluster Têxtil surge para unir este sector?
Eu diria que é nos dois sentidos. O Cluster foi criado há 3 anos e foi formado no timing certo. Se o tivéssemos formado há dez ou quinze anos atrás, as empresas não iam querer estar com concorrentes na mesma sala. Criávamos o Cluster mas não tínhamos as pessoas das empresas e isso não interessava. Há com certeza uma predisposição das empresas para isso.

E o Cluster consegue depois maximizá-la. Mas não foi o Cluster que criou essa predisposição, as próprias empresas começaram a perceber isso. O sector industrial é muito curioso, temos pessoas de diferentes áreas, com diferentes escolaridades e experiências. Mas todos têm uma resiliência e uma capacidade de previsão de futuro muito interessante. A indústria têxtil portuguesa tem demonstrado isso ao longo do tempo.

Qual é a dimensão do Cluster? Tem quantos membros?
Neste momento terá à volta de sessenta membros. Mas também estamos numa fase de crescimento. O nosso objectivo é aumentar. Estamos a falar de uma organização que é recente, que tem mostrado o seu valor e que tem que ir mostrando para atrair mais membros. Temos noção que precisamos de mais membros para ter uma representatividade mais interessante.

Os primeiros anos foram anos de sedimentação, de trabalho com os membros, de verificação e ajustes necessários. E este ano, um dos nossos objetivos é crescer, aumentar o número de membros. Nomeadamente os membros do sector industrial. Nas outras áreas estamos bem representados, com as principais Universidades e Associações.

iTechstyle Green Circle | Designer: Alves Gonçalves | Material: Algodão e fibra de rosas, Somelos | Photo: Sorin Opait | Styling: Paulo Gomes
iTechstyle Green Circle | Designer: Alves Gonçalves | Material: Algodão e fibra de rosas, Somelos | Photo: Sorin Opait | Styling: Paulo Gomes

A indústria nacional está preparada para pôr em prática a economia circular e o ecodesign?
Digamos que no âmbito da economia circular e da sustentabilidade a indústria já está muito preparada para essas novas áreas. Está muito atenta. Estamos a falar globalmente, de uma forma genérica, a indústria tem muita noção da necessidade desta temática. Já reconheceu o valor, e demonstrou. É já normal ouvir-se dizer hoje em dia, por entidades externas, que quando querem um fornecimento com a maior garantia e a maior fiabilidade de produto têxtil ou circular, que o conseguem em Portugal. Há uma confiança no produto nacional.

No ecodesign, e agora falamos muito do design para a sustentabilidade e do design para a circularidade. Especificando o ecodesign, digamos que ainda há algum espaço de crescimento. De alguma forma as empresas até têm incorporado esses conceitos na fase da concepção mas genericamente ainda não está a ser feita de uma forma totalmente estruturada. Por exemplo, quem produz materiais, tecidos e malha, já vai tendo práticas implementadas e já vai atrás de orientações. Quando estamos a falar de produto final e no desenvolvimento do produto final, uma peça de vestuário, por exemplo. As peças ainda não são pensadas completamente numa perspectiva de circularidade.

A própria definição não é clara para muitas pessoas. Porque relacionam ecodesign apenas com algo feito de materiais ecológicos.
Certo! “Eu estou a utilizar algodão biológico, logo já estou a fazer ecodesign” – e não é! É uma vertente, os materiais, a considerar mas não é só isso. Vai além dos materiais que se usam. E depois esquecem-se de outra coisa, que é relevante na fase de concepção: é muito importante pensar naquilo que é o objectivo daquela peça, daquele produto que estão a desenvolver.

Pensar no que planeiam para o ciclo de vida daquele produto. Quando falamos hoje em dia de ciclo de vida [de um produto], é o [seu] renascimento. Não é só até à fase do primeiro ciclo de utilização. Tem que se pensar no renascimento da peça. Já não há só uma utilização, pode haver várias utilizações. Daí que nós tenhamos criado nos SIG, um grupo específico para falar desta questão do ecodesign e do design para a performance. Exatamente porque achamos que esta é uma área que precisa de algum desenvolvimento.

É nesta área que as Universidades têm um papel mais ativo e não tanto as empresas têxteis. Existem Universidades com cursos de moda membros do Cluster Têxtil?
Qualquer uma das que estão no Cluster Têxtil, que é por exemplo a Universidade do Minho e a Universidade Beira Interior, são as duas que têm especificamente áreas têxteis e de moda, mas depois a Universidade de Aveiro também tem áreas de ligação. O que eu tenho receio às vezes, e atenção sem grande conhecimento, mas é a percepção que eu tenho quando falo com pessoas que saem da academia.

É que muitas vezes até podem focar o eco-design mas provavelmente não está a ser ensinado da melhor forma. Isso ainda é pior que não falar dele. As pessoas saem a pensar que sabem o que é o eco-design, com noções que não são as mais corretas sobre eco-design. E estão convencidas que até sabem quando na realidade não sabem. Portanto, é melhor não ensinar do que ensinar erradamente.

Quer desenvolver?
O ecodesign tem uma particularidade, na minha perspectiva, muito interessante. Temos que ter os designers incluídos, que são as pessoas que estão focadas na concepção e desenvolvimento de novos produtos, na sua vertente completa: materiais, formas, processos e etc. Mas deveriam também participar neste processo, pessoas de conhecimento técnico na área da sustentabilidade e da economia circular. O conjunto das duas, numa empresa dá uma solução muito interessante.

Na nossa iniciativa, o iTechStyle Green Circle – que é a forma de apresentar e levar ao mundo as soluções que são desenvolvidas em Portugal – teve numa das edições, um produto da Confetil (selecionado para um prémio) com o desenvolvimento de uma peça que foi pensada para ser com monomaterial e facilmente desmontada. Já a pensar na altura em que deixa de poder ser usada. A peça tinha vários elementos, que eram facilmente separados. Foi pensada de propósito para isso. Esse foi um trabalho desenvolvido entre os seus designers e a pessoa que é responsável pela área da sustentabilidade.

Pormenor da etiqueta que explica como separar as diferentes partes das peças. | iTechstyle Green Circle | Designer e materiais: Confetil Pormenor da etiqueta que explica como separar as diferentes partes das peças. Design Confetil | iTechstyle Green Circle
Pormenor da etiqueta que explica como separar as diferentes partes das peças. | iTechstyle Green Circle | Designer e materiais: Confetil
iTechstyle Green Circle | Designer e materiais: Confetil
iTechstyle Green Circle | Designer e materiais: Confetil

Ela deu-lhes as informações base e disse o que é importante. Eles pegaram nesses conceitos e aplicaram, desenvolvendo esse produto. Eu acho que esta sinergia entre as duas partes pode ser muito importante. É interessante para mostrar que não é só introdução de matérias. É comum as pessoas falarem de sustentabilidade mas depois aplicam essencialmente o conceito à questão ambiental. Não há problema nenhum a empresa estar focada na parte ecológica. Tem é que dizer que tem um produto ecológico e não sustentável. Agora, se introduz questões sociais, se tem essas preocupações no seu âmbito de produção.

Se introduz questões associadas com as condições de trabalho, com as condições das pessoas, as mais valias que são dadas, e na sua cadeia de fornecimento garante as condições de respeito pelos trabalhadores e de respeito pelas pessoas. Se isso é garantido, então até pode falar de sustentabilidade. Tipicamente as pessoas dizem que têm um produto sustentável mas depois só se referem a questões ecológicas. Então têm um produto ecológico, não têm um produto sustentável.

Qual é a importância da certificação para os produtos, apresentada pelas marcas?
Eu considero que as certificações são uma validação. Quando um produto tem uma certificação standard 100 by OEKO-TEX, garante que não tem substâncias nocivas para a saúde humana. Há aqui uma garantia ao utilizador quando comprar aquela peça. De que vai respeitar aquele princípio que está ali definido. Eu diria que é uma ferramenta de validação, não tem que ser o principal objectivo. Ela dá-nos validação. O mesmo acontece com os GRS (Global Recycled Standard) para os reciclados.

E depois para a própria empresa. Como existe para a [indústria] têxtil em concreto, existe uma certificação de empresas que é o STeP (Sustainable Textile Prodution) que mede o nível de sustentabilidade de uma empresa. Nas diferentes vertentes, na área social, na área económica da empresa, na parte ambiental, na dos produtos químicos e também na parte da qualidade. Que avalia qual é o nível de sustentabilidade de cada empresa.

Quando uma empresa tem esta certificação, que é validada por entidades externas, dá outro tipo de garantia a quem trabalha com estas empresas. Porque uma coisa é eu dizer que tenho, e é fácil dizer que o meu produto é isto ou aqueloutro. Outra coisa é alguém ter lá ido e poder comprovar de facto aquelas declarações. Também é verdade, já agora, que os sistemas de certificação são muito variados e não são fáceis de dar a conhecer ao consumidor final.

Se tivesse que aconselhar pequenas marcas de moda, que certificações indicaria? Quais considera mais importantes?
É curioso que me fazem às vezes essas perguntas. Eu digo sempre, para recomendar tenho que perceber qual é a estratégia que a empresa quer. Porque há várias com diferentes vertentes, por exemplo, se uma empresa diz que “o foco é em produtos naturais de produção biológica”. Então claramente serão GOTS (Global Organic Textile Standard), o ideal. Ou então, pode ir para um OCS, que é o Organic Contend Stantard – mas o OCS só mede mesmo o conteúdo, enquanto que o GOTS tem regras que vão para além disso. Portanto é bastante mais exigente. Se uma empresa disser que ainda está nos primeiros passos, então pode começar com o OCS com o foco no GOTS. Não há uma solução única para todos.

iTechstyle Green Circle | Designer: Nuno Baltazar | Material: Tenowa, Riopele | Photo: Sorin Opait | Styling: Paulo Gomes
iTechstyle Green Circle | Designer: Nuno Baltazar | Material: Tenowa, Riopele | Photo: Sorin Opait | Styling: Paulo Gomes

A Comissão Europeia prepara-se para apresentar a estratégia para os têxteis sustentáveis, incluída no Green Deal. O que gostaria de destacar?
O Green Deal acaba por concentrar num documento só, um conjunto de orientações que já vinham sendo dadas e que estavam dispersas em alguns documentos. A aplicação da bioeconomia no sector têxtil é algo que já se vinha a discutir. Só que agora tem um reforço político. O facto de existir o documento dá-nos outro tipo de background, até na apresentação de projetos. E isso suportado por uma orientação europeia é diferente de não haver. Porque já falávamos da bioeconomia e da sua importância para a Europa, nomeadamente no sector têxtil.

Com a criação de novas fibras, desenvolvidas através do aproveitamento daquilo que a natureza nos dá, produzidas na Europa para serem usadas na Europa. Esse seria um dos dois focos mais importantes, acho eu, o outro é a questão da transição energética e da emissão do carbono zero. Se em 2050 conseguirmos atingir o carbono zero, envolvendo o sector industrial, será um passo muito grande. Há aqui mudanças que vão ser substanciais no sector industrial. E aí vai ser necessário bastante investimento, algumas alterações, em alguns casos dos próprios processos produtivos. Isto tem que ser feito de facto com alguma calma. Porque são mudanças muito radicais em alguns casos.

São mudanças tão radicais que vão deixar a Europa isolada, em termos de destaque sustentável, em oposição ao resto do mundo. E vamos provavelmente centralizar tudo na Europa. O grupo Kering, por exemplo, comunicou que vai deslocar a sua produção na Ásia para a Europa, com certeza outros farão o mesmo. Como é que isso nos deixa, isolados ou mais competitivos?
Isso já é uma questão de um âmbito político que eu posso dar a minha opinião mas sinceramente, não sou a pessoa com as melhores capacidades para o fazer. Eu espero que com a implementação destas medidas que estão previstas, que a Europa de facto se possa destacar mas de uma forma positiva. Tendo em conta que alguns consumidores no mundo estão cada vez mais sensíveis a estas questões e percebem a importância da sustentabilidade futura do planeta Terra – eu diria mais, não é do planeta Terra, é das pessoas no planeta Terra.

A própria decisão de compra vai ter alguma influência e aí a aposta da UE será uma aposta ganha. A ideia não será apenas vender para a Europa mas para o mundo. Também não nos convém ficarmos isolados. Agora há algum risco nisso, acredito bem que há aqui um conjunto de ferramentas que vão acompanhar a aplicação prática destas realidades. E tem que se acompanhar. Não podemos atingir um patamar excelente de sustentabilidade e isso significar que deixamos de ter negócio. Porque isto já não é sustentabilidade. Porque a sustentabilidade também é manter o lucro do negócio. Faz parte da área da sustentabilidade. É o ‘People, Planet and Profit’.

iTechstyle Green Circle | Designer: Alexandra Moura | Material: Cork-a-Tex | Photo: Sorin Opait | Styling: Paulo Gomes
iTechstyle Green Circle | Designer: Alexandra Moura | Material: Cork-a-Tex | Photo: Sorin Opait | Styling: Paulo Gomes

Que desafios se perspectivam nos próximos anos para este sector, quer seja em Portugal ou no mundo?
Os desafios não são exatamente iguais em todo o lado. Temos áreas e desenvolvimentos diferentes que é natural. Porque não estamos todos no mesmo patamar. Portugal passou, e eu assisti a isto, a um crescimento de consciencialização, um crescimento da capacidade financeira das próprias empresas. De desenvolvimento das suas formas de atuar e não podemos exigir a toda a gente exatamente o mesmo. Quando estão em situações diferentes nos diferentes locais do mundo. As realidades sociais são diferentes e portanto é normal que as exigências também sejam diferentes. Mas as maiores exigências que vamos ter, é conseguir de alguma forma, conjugar e garantir essa sustentabilidade da vida no planeta mantendo um negócio que seja de facto viável.

E nisto a economia circular trás aqui uma mudança de paradigma que é muito relevante. A forma de pensar dos negócios vai ter que ser repensada. Há já aí nichos de novos modelos de negócio a serem testados. Mas esta mudança de paradigma do negócio é uma coisa, que se atingirmos maioritariamente uma economia circular, vamos ter uma realidade que é muito diferente da que temos agora. E um dos grandes desafios para isso acontecer é a disposição do consumidor que vai passar a ser o utilizador para essa mudança. Vai deixar de ser consumidor e passar a ser utilizador. Essa mudança até pode ser cada vez mais fácil nas novas gerações mas eu acho que não é uma mudança que se faz rapidamente. Precisa de tempo.

Passar de produto a serviço?
Passar de produto a serviço que na prática é isso que numa economia circular vamos ter que pensar. E ter ferramentas que nos permitam ter a maximização desse uso de recursos. Complementado com outras coisas. A reciclagem vai lá estar porque chega a uma determinada altura em que o produto já não tem utilidade. Se não tem para mim também não tem para o outro e portanto vai ter que ter um fim. São vários componentes, não há um só. Às vezes parece que só há um caminho mas não há. Tem que haver vários para diferentes tipos de coisas. Mas há uma mudança aqui de facto na forma como os negócios estão pensados. Da forma como vão ser geridos no futuro, é um desafio enorme. E que o utilizador final tem que estar aberto a aceitar essas alterações.

Qual é o seu motto para uma moda circular?
É uma coisa que eu nunca pensei. Eu diria não só para uma moda circular mas certamente para várias coisas que estão relacionadas com a economia circular e com a sustentabilidade. Neste caso concreto, não podemos ter uma solução que serve para tudo. Temos que ter várias. Temos que ajustar a solução à especificidade de cada problema e de cada situação. E a diversidade das soluções é o que nos vai garantir melhores resultados.

Temos que ter abertura e perceber que a nossa solução pode ser esta, que o nosso caminho é este, mas não significa que o caminho do outro que é diferente do nosso, esteja mal. Desde que esteja bem preparado, bem fundamentado. Há que dar espaço e caminho a outros, não é só nosso caminho que está certo. De facto é isto, não há uma solução única para tudo. Há várias soluções que nós devemos deixar em aberto. Vários caminhos podem ser feitos e todos podem estar focados na economia circular e na sustentabilidade. Se há algum motto que eu uso é este.

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