Benetton: da moda ao design de interiores para um melhor ambiente

Por Sandra Dias

Design de moda e de interiores partilham os mesmos materiais sustentáveis e os fundamentos da economia circular na nova loja da Benetton em Florença.

Por Sandra Dias

A arquitetura e o design de interiores ao contrário da moda movem-se devagar e as mudanças demoram anos para se tornarem perceptíveis. Mas recentemente e por causa das alterações climáticas também estas áreas estão a evoluir mais depressa. Demonstram que é possível redesenhar o mundo de uma forma regenerativa com os princípios da economia circular. E a Benetton procura fechar o ciclo dos ciclos de vida dos produtos por meio de uma maior reciclagem, reutilização, ecodesign e eficiência energética. Que aumentam os benefícios para o meio ambiente e para a economia.

Atualmente as prioridades gerais destas áreas são alteradas e levantam questões como: Que materiais são usados? Como são feitos? Qual é a sua pegada de carbono? E mais importante, como se reciclam? O design pode ter um impacto positivo se for feito com um fim em mente. Designers e arquitetos podem reduzir até 90 por cento do impacto final de um projeto com base nas primeiras decisões do design. Dispõem da inovação em tecnologia, desenvolvimento de materiais, design e métodos de construção e biomimética, como ferramentas facilitadoras.

Com isso o Grupo Benetton desenvolveu internamente, no Departamento de Retail, um novo conceito que estende às suas lojas as mesmas preocupações que tem com a sua moda. E no início de março deste ano, inaugurou em Florença uma loja ecoeficiente. Que faz parte de um grande projeto de sustentabilidade da marca para consolidar boas práticas e melhorar o seu desempenho ambiental e social em toda a cadeia de abastecimento. “Esta loja é um conceito único em todo o mundo, estudado para dar início a uma nova fase da nossa empresa”, afirmou Massimo Renon, Administrador-delegado do grupo Benetton.

Loja United Colors of Benetton em Florença
Loja United Colors of Benetton em Florença
Loja United Colors of Benetton em Florença
Loja United Colors of Benetton em Florença

Razões para integrar materiais sustentáveis

A Benetton identificou os temas, áreas de pesquisa e recorreu a terceiros para a experimentação e prototipagem dos mesmos. Conseguiu aplicar na loja de Florença as pesquisas e a inovação de novos materiais, produtos e sistemas automatizados de poupança de energia. Os novos materiais sustentáveis oferecem vários benefícios ambientais tais como, redução do uso de energia, redução das emissões de gases de efeito estufa, proteção dos recursos naturais, redução da utilização de água, melhoria da qualidade do ar e redução do desperdício.

Este projeto foi desenvolvido fora dos parâmetros das certificações oficiais, devido ao seu carácter experimental e de investigação, mas com ele a Benetton inicia o processo de avaliação do ciclo de vida dos materiais. Com o arranque da monitorização vai conseguir medir todos os impactos ambientais gerados por cada fase, da produção, uso e descarte dos mesmos. Permitindo uma melhor gestão dos impactos diretos com a qualidade e quantidade do consumo de energia, com a eficiência do processo e emissões; e o impacto indireto para a produção de matérias-primas. O grupo procura deste modo, aperfeiçoar o conceito para o tornar ainda mais rentável e sustentável, e implementá-lo em outras lojas em Itália e no estrangeiro.

No interior da loja foram incorporados resíduos têxteis pós-consumo: lã, fibras mistas e botões. Aqui, a lã reciclada em estado de mecha crua é reutilizada como desenho no revestimento perimetral e como decoração das cortinas dos provadores. O rossino, material feito com fibras têxteis mistas recicladas, dá vida às estantes, bases de expositores e manequins. E os botões usados – difíceis de eliminar – misturados com hidrorresina tornam-se plataformas perimetrais e bases dos expositores.

Detalhe, loja United Colors of Benetton em Florença
Detalhe, loja United Colors of Benetton em Florença
Detalhe, loja United Colors of Benetton em Florença
Detalhe, loja United Colors of Benetton em Florença
Botões usados para reciclagem
Botões usados para reciclagem
Montagem da loja United Colors of Benetton em Florença
Montagem da loja United Colors of Benetton em Florença

Loja ecoeficiente

A nova loja reforça também a política de eficiência energética do grupo Benetton. Sete em cada dez lojas são alimentadas por eletricidade renovável certificada. Os consumos energéticos são reduzidos em 20 por cento comparativamente com os de uma loja padrão. Conseguidos através de sensores minúsculos, inteligência artificial e análise de dados. A concepção deste sistema permite maximizar a eficiência energética dos pontos de venda e garantir o conforto dos seus colaboradores e clientes. Gerindo automaticamente os sistemas em função do afluxo de pessoas.

Também aqui foi considerado o padrão do bem-estar, outro fator que influencia positivamente o design de interiores e a arquitetura. Este aspecto tem um impacto real na saúde humana, no bem-estar e na produtividade, pois define como as pessoas vivenciam os ambientes construídos. Com o foco a incidir na saúde e na qualidade de quem frequenta o espaço.

Nos 160 metros quadrados da loja, destaca-se o pavimento feito de restos de madeira das faias derrubadas pela tempestade de Vaia, e cascalho do rio Piave. A loja tem um sistema de ar condicionado de alta eficiência e as paredes – à semelhança do que já é feito em algumas gamas de roupa – foram tratadas com tinta mineral com propriedades antibacterianas, antibolores e com capacidade de reduzir a poluição presente no meio ambiente. Porque o ar interno pode ser duas a cinco vezes mais poluído que o ar exterior.

Aliar estas características do design de interiores à moda é pensar na sustentabilidade de uma forma holística. É unificar o discurso e reafirmar o compromisso ambiental e social do grupo, sem descartar a componente económica. Fazer mais com menos é possível e isso não implica pôr de parte a estética e a funcionalidade dos produtos, quer seja moda ou design de interiores. A abertura desta loja abre a porta para um novo tipo de colaborações que em outros tempos seria difícil de imaginar.

Cientistas e pessoas com pouco sentido estético são agora os novos colaboradores da moda, da arquitetura e do design de interiores. Reconhecem a urgência face à crise climática e têm autoridade para dizer o que deve acontecer. Designers e arquitetos  renovam os seus conhecimentos e começam a explorar novas abordagens com a economia circular em mente. Podendo redesenhar o mundo e iniciar um novo ciclo que todos percorrem ao mesmo tempo e no mesmo ritmo.

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