A manutenção das nossas roupas está diretamente ligada à crise climática. Respeitar, cuidar e tratar pode ser a fórmula certa.
Por Sandra Dias
As preocupações com a crise ambiental levam-nos a alterar, pouco a pouco, os hábitos de consumo e o nosso estilo de vida. Em que o conceito de sustentabilidade é cada vez mais entendido e praticado. Refletindo-se nos critérios de seleção dos produtos, que abarcam a responsabilidade social, a ambiental e o preço. No entanto, a sustentabilidade na moda também se traduz por amar, respeitar, cuidar e tratar os nossos objetos.
Opte por qualidade em vez de quantidade. Esta é uma das frases mais recorrentes quando se tenta encontrar soluções para o impacto da moda sobre o ambiente. Os modelos de negócios deste sector reinventam-se e destacam-se cada vez mais as vendas em segunda mão e o upcycling. Mas o número de peças de roupa em uso no planeta continua a aumentar. E dá-se uma transferência do impacto da sua produção para o transporte e manutenção das mesmas.
Respeitar, cuidar e tratar bem as roupas passam a ter um peso substancial no combate às alterações climáticas. Porque ao cuidarmos e tratarmos bem das nossas roupas estamos a respeitar o planeta e isso é amar a Terra. É também preservar a biodiversidade e promover um consumo de moda mais sustentável. Mas a emotividade vai estar sempre ligada ao impulso neste tipo de compra. E quando uma peça conquista a preferência de alguém, é usada mais frequentemente, logo também a sua manutenção aumenta.
A longevidade do artigo vai depender primeiro da sua qualidade e depois, da manutenção certa. Poucas peças conseguem subsistir a lavagens excessivas, programas de lavagens inadequados ou a utilização de detergentes errados. Perante este cenário o seu ciclo de vida encurta-se e isso reflete-se diretamente no ambiente. Resultando num consumo excessivo e desnecessário de água e de energia, poluição dos solos e da água com substâncias tóxicas e microplásticos. Aprender a cuidar e tratar bem da roupa é fundamental.
A correlação entre a manutenção das roupas e a crise climática
Enquanto consumidores de moda podemos exigir práticas mais sustentáveis às marcas de moda mas não podemos isentar-nos do nosso papel. Que começa com as nossas decisões. Optar por materiais mais sustentáveis, distinguir materiais de origem natural e sintética. Ler e respeitar a etiqueta de manutenção das roupas. Usar detergentes biodegradáveis e optar por máquinas de lavar roupa com a máxima eficiência energética. Estes aspectos dependem apenas de nós. É também com estas escolhas que participamos, ou não, no equilíbrio do planeta.
Sob a perspectiva do ciclo de vida de uma peça, a sua longevidade representa um aspecto crucial na redução do impacto ambiental, como ilustra o gráfico (retirado de um relatório da Mistra Future Fashion). O mesmo estudo revela que deve ser considerado que existem mais dados disponíveis para algumas categorias de impacto do que outras. Por exemplo, o uso de água e de energia são mais comuns do que os dados de toxicidade e impacto da eutrofização, que por sua vez são mais comuns do que os dados sobre o uso dos terrenos e sobretudo, nos efeitos subsequentes nos ecossistemas, como o impacto na qualidade do solo, erosão do solo e biodiversidade.
Infelizmente o impacto da moda mantém-se acima do expectável. A população mundial continua a crescer, cerca de 7,8 mil milhões de pessoas, tal como a oferta de moda, 3,5% em 2012 e 6,16% em 2020 (fonte: Statista). As novas peças que surgem, juntamente com as que continuam a ser vendidas e revendidas, promovem um aumento da percentagem do impacto da manutenção (laundry). Sendo que o último ano também contribuiu para isso. Se por um lado, a pandemia fez com que a fast fashion abrandasse, por outro lado, as lavagens de roupas aumentaram.
Este último aspecto, o da lavagem da roupa, é onde podemos atuar ativamente para prolongar o seu ciclo de vida e proteger o ambiente. Tornar o nosso estilo de vida mais sustentável deve começar dentro de casa. Decidir quais os detergentes mais amigos do ambiente e eletrodomésticos mais eficientes, pode ser o primeiro passo a dar. Com estas escolhas podemos reduzir o consumo de água e de energia e consequentemente reduzir as emissões de CO2.
Detergentes eco-friendly e máquinas de lavar roupa eficientes
Eleger o detergente devia ser fácil, contudo a panóplia de produtos disponíveis no mercado pode complicar essa decisão. Já existem várias ofertas de detergentes amigos do ambiente e isso são boas notícias. Mas como escolher? Líquido ou em pó?
Para um bom resultado de lavagem, deve utilizar-se um detergente concentrado líquido, idealmente feito com ingredientes naturais. Os detergentes em pó geralmente contêm partículas abrasivas que causam mais quebra das fibras e podem deixar depósitos na roupa. Mas quer se use detergente em pó ou líquido, em ambos os casos, é importante usar a dosagem certa. O seu excesso danifica as roupas e o meio ambiente. Alguns detergentes em pó, contudo, devem ser evitados porque podem conter plásticos líquidos ou borrachas.
A fragrância do detergente é geralmente o elemento que capta mais a atenção de quem procura o produto certo. Só que quanto mais perfumado, maior a probabilidade de ser sintético. Os produtos com ingredientes naturais são menos intensos e por vezes sem perfume. O mesmo acontece com a cor. Quanto mais colorido, mais sintético. Resumindo, o melhor produto é aquele que reunir o maior número das seguintes características:
– Fórmula biodegradável (sem fosfato)
– Fragrâncias naturais ou sem perfume
– Sem alvejante
– Sem etoxilatos de nonilfenol (NPE)
– Sem branqueadores ópticos
– Sem corantes artificiais
– Seguro para fossas sépticas
– Sem ser testado em animais
– Fórmula concentrada (3x a 4x concentrado é o mais comum)
– Embalagem reciclada e reciclável
O fator local também deve pesar na decisão. Pois isso encurta distâncias e poupam-se emissões de gases de efeito estufa no seu transporte. No fundo, é optar pela fórmula mais natural e biodegradável possível e de preferência produzida localmente.
Em 2007 surgiu a Inokem, uma marca portuguesa de detergentes que cedo apostou na biotecnologia para desenvolvimento de produtos com soluções compostas por matérias-primas totalmente biodegradáveis. Tem produtos biológicos concentrados e a sua proposta para a lavagem de roupa surge com o Biomach Super. Um detergente biológico composto por enzimas, combinadas com matérias-primas biodegradáveis e óleos essenciais.
A fórmula concentrada permite a rentabilidade do produto, com a vantagem de poder ser usado em lavagens à mão ou na máquina e a baixas temperaturas. Por ser de base natural a sua utilização estende-se a todos os tipos de fibras, mesmo as mais delicadas como a seda e a lã. Contudo, deve respeitar-se sempre a indicação da etiqueta de manutenção proposta pelo fabricante das peças de roupa.
Quando se utilizam detergentes biodegradáveis em máquinas de eficiência energética dá-se o casamento perfeito. Poupança de água e de eletricidade, e zero agentes poluentes. Mas se as peças forem sintéticas o melhor é juntar outro eco-produto. O Guppyfriend. Um saco, no qual se colocam as peças de roupa sintéticas, com a capacidade de reter os microplásticos originados pela rotação do tambor da máquina.
Saber utilizar os produtos certos disponíveis no mercado ajuda-nos a diminuir o impacto negativo da moda no meio ambiente. A um de março foram renovadas as etiquetas energéticas de quatro tipos de eletrodomésticos, máquinas de lavar roupa, de máquinas de lavar loiça, frigoríficos e monitores (incluindo televisores). Estas novas categorias usam uma escala simplificada de A a G, substituindo as categorias A+, A++ e A+++.
Agora as etiquetas energéticas também vêm acompanhadas por um código QR, tornando a sua informação mais transparente. A leitura dos códigos dá acesso a um banco de dados que contém informações adicionais sobre os diferentes produtos. Com as etiquetas energéticas revistas e as novas medidas de eco-design espera-se que ambas reduzam 167 TWh no consumo de energia na União Europeia por ano, em 2030. O que equivale ao triplo do consumo de eletricidade anual em Portugal atualmente.
Segundo a Associação Zero, as novas etiquetas vão dar informações que facilitam o reconhecimento dos produtos que podem ajudar a reduzir as contas de energia. Ao mesmo tempo que garantem que o mercado evolui de acordo com os objetivos climáticos de Portugal e da Europa. O que reforça a afirmação: ‘opte por qualidade em vez de quantidade’. Respeitar, cuidar e tratar são ações cada vez mais fáceis e vantajosas para nós e para o planeta.
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