A health coach colombiana Margaret Rosania decidiu viver seguindo o cosmos. Guiada pelas as estrelas Margaret veio para Portugal onde abriu um centro de wellbeing e yoga shala. Numa longa e intimista conversa falou-nos da importância de acompanhar o ritmo da natureza, dos ciclos do Universo e da sua jornada até aos cuidados integrativos no seu espaço Siendo.
Por Sandra Dias
Disse-nos que decidiu viver “cosmicamente”. O que significa viver “cosmicamente”?
É precisamente acompanhar os movimentos cósmicos, ou seja, temos as massas que são os planetas que tal como as estações do ano vão mudando, vão rodando em elíptica. Estamos mais habituados com a lua, com o seu ciclo de vinte oito dias. E sabemos quando são as fases lunares porque conseguimos observa-la. Mas da mesma forma que a Lua está a transitar na sua órbita, existe o transito de Mercúrio que também já se fala muito, “ah mercúrio está retrógrado”. E começamos a observar outros planetas, Vénus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno. Ao acompanharmos esses movimentos conseguimos verdadeiramente viver em escala. Eu consigo organizar-me e ordenar a vida, porque o cosmos é ordem. Ordenar a minha vida em ciclos de vinte oito dias com as fases lunares. Em ciclos de treze anos, com o ciclo jupiteriano. Em ciclos de trinta anos com o ciclo saturnino. E assim estou a viver cosmicamente. Tendo essa informação presente na vida e não ignora-la. Porque no Yoga diz-se que a maior causa do sofrimento é a ignorância. Ignorância é aquilo que não sabemos. Porque não estamos em contacto com essa informação ainda, ou porque decidimos conscientemente ignorar aquilo que sabemos e não aplicamos na nossa vida. Eu decidi viver acompanhando o ritmo cósmico, com base na cosmologia. E tentar viver também com um processo de humildade, de entrega. De entender que há forças maiores às quais eu tenho que acompanhar e não impor-me. Entender o ritmo universal para que eu possa entrar nesse ritmo também. A Astrologia permite-nos relacionar o macrocosmos, que é o vasto, com o microcosmos, que somos nós. E questionar os nossos valores, os nossos princípios, as nossas inspirações para conseguirmos ver se isso ecoa verdadeiramente um pouco mais. Se nos aproxima um pouco mais das leis universais do macrocosmos. É muito lindo quando começamos a ver isso e a sincronizarmo-nos no ritmo. Acho que a moda ou qualquer tendência, acompanha um ritmo. A moda acompanha as estações do ano. Desejamos aproximarmo-nos cada vez mais da natureza. Só que a linha é muito ténue entre essa aproximação e o abuso. E é aí que começamos a perder o foco, a perder um pouco o compasso.
Quando é que começou a sua jornada para a auto-descoberta e auto-realização?
Essa jornada começou já há um tempinho. Desde criança tive uma aproximação ao divino e ao sagrado porque frequentava o templo Shaolin. Frequentei muito o mosteiro, a ver os rituais deles e a praticar meditação com as artes marciais. Sempre tive curiosidade mas depois afastei-me um pouco quando me dediquei à minha carreira de designer. Com 21 anos fui morar para Nova York e fui para o yoga. E foi aí, com uma aula de yoga, que se abriu todo esse universo para mim. Começou na curiosidade pela alimentação, pelo que estava dentro de mim, pela minha forma de pensar. Este processo fez-me querer construir a minha vida com base nos meus pensamentos e nas minhas emoções. Não com o que aprendi na escola ou com o que os meus pais me ensinaram.
Então o yoga foi determinante para o seu estilo de vida?
O yoga foi um processo de identificação. Porque eu acho que toda a nossa busca é com o que nos identificamos, com a nossa identidade. O yoga veio para me mostrar esse “único” que eu tenho. “Único” que eu sou mas que tenho que ir depurando, descobrindo e trabalhando.
Margaret imergiu no mundo do yoga, da astrologia, da aromaterapia, da acupunctura, e da cristaloterapia. Como é que foram surgindo?
Tudo surgiu como uma busca pessoal. Eu nunca tive a intenção de me tornar professora de yoga ou estudar aromaterapia porque queria ser terapeuta de aromaterapia. Nunca foi com a intenção de uma profissão. Como por exemplo quando eu quis ser designer. Eu quis ser designer porque queria fazer anúncios. É muito interessante como a mente vai amadurecendo e procura essa satisfação interna e não tanto aquilo que se quer fazer para fora. Então com o yoga começou o processo de curiosidade. Que me levou a querer aplicar também essas coisa em mim. Decidi fazer um ano sabático, mas esse ano sabático transformou-se em três anos sabáticos porque comecei a viajar e a estudar acupunctura. Foi um estudo muito profundo. Foi começar uma vida nova. Uma carreira nova, que eu nem percebi. Foi uma nova jornada que se estava a iniciar. Eu não sabia o que iria ser a minha vida a partir desse momento. Comecei a trabalhar com acupunctura e entrei na escola de medicina chinesa. Eu também sou muito intuitiva, um dia acordei a pensar nos óleos essenciais e comecei logo a investigar sozinha e fui atrás da certificação. Aconteceu tudo assim, partindo de uma curiosidade muito egoísta, porque era muito para mim. Sempre focada em mim. E com esse enfoque em mim, as pessoas começaram a perguntar-me o que estava a fazer, o que era isso? E eu comecei a compartilhar. E foi com essa partilha que reparei que já era terapeuta. Foi muito orgânico. Mas é tão lindo ver a energia a trabalhar para mim e não eu a trabalhar para a energia. É não ter expectativas e não ir atrás das coisas. É tão simples como integrar as coisas dentro do que está fluindo ao redor. É uma coisa muito orgânica. Eu não sei em que momento me tornei terapeuta. Comecei a partilha com a família, com os amigos e depois com os amigos dos amigos. Adoro o exemplo das medidas de segurança dos aviões (coloque primeiro a máscara em si e só depois deve colocar à criança que estiver consigo) porque aplica-se muito bem na vida espiritual. Você tem que cuidar de si. Você coloca a máscara mas também falam do outro passo, em que você também tem que puxar, puxar a máscara para que o ar comece a fluir. Não basta só colocar mascara, porque colocar a máscara é o despertar da ignorância. Mas puxar é aplicar essa informação. Não ignorar, aplica-la. Fazer um esforço, e esse esforço é precisamente o Karma. É o trabalho que temos que fazer em nós mesmos para conseguir uma expressão plena. Por isso é que na Siendo nos baseamos em três pilares. Primeiro o autoconhecimento, procurar essa informação, essa curiosidade e perceber o que precisamos para crescer um pouco mais para nos conhecermos melhor. Depois o autocuidado, essas coisas que começo a aplicar em mim para depois conseguir expressar-me plenamente. E conseguir ser vulnerável, sem problemas. Porque ser-se vulnerável é uma questão – ninguém quer ser vulnerável – porque se pensa que é uma desvantagem. Mas na verdade a pessoa que é plenamente vulnerável está tão segura e com tanto amor próprio que sabe que a única coisa que vai entrar nela é aquilo que ela permitir que entre.
A propósito de vulnerabilidade, parece que os nossos valores se estão alterar pouco a pouco. O que encarávamos como sério, uma carreira de sucesso, status quo, estão a mudar. Estamos a deixar de ter vidas “sérias” mas continuamos a fazer coisas sérias?
A questão é o que é o sério? Eu acho que mais que sério, é digno, é sinceridade. Que tem a ver muito com a questão da sustentabilidade, ou seja, quando eu sou sincera comigo mesmo, quando eu me conheço o suficiente. Por isso que o autoconhecimento é muito importante. Se me conhecer o suficiente, sei o que consigo sustentar. A sustentabilidade é isso. É algo que se consegue levar a longo prazo como estilo de vida. Eu posso gostar de viajar, mas será que consigo sustentar isso, sem comprometer as outras coisas que são a minha vida? Se eu quero ser uma mulher de família, se eu quero ter o meu filho na escola. Será que eu consigo? De que forma é que consigo um equilíbrio? De que forma eu consigo sustentar aquelas coisas que eu gosto? Então mais do que sério, é ser-se mais genuíno. Nós temos que ser genuínos, temos que ser sinceros connosco. Temos muitas influências externas. Os sentidos chamam-nos, provocam-nos o desejo. Buda falava do desejo e de afastarmo-nos do sofrimento. Mas como é que conseguimos encontrar o certo dentro de todas essas opções, de todas essas probabilidades que a vida nos oferece? É sermos genuínos. Sermos genuínos e depois stick to the plan. Daí para a frente de modo sustentado.
A sustentabilidade é isso. É algo que se consegue levar a longo prazo como estilo de vida.
O que a inspirou a abrir o espaço Siendo?
Sustentabilidade, precisamente. Tornei-me terapeuta sem nunca pensar vir a ser. Nunca pensei no “vou abrir meu escritório, vou atender ali, vou ter um ordenado.” Nunca foi planeado dessa forma. Sempre atendi muito a nível particular. “Vou beber um café com uma amiga” e isso acabava por se tornar numa consulta. Ou, “vem ver a minha prima, está aqui em casa, fala com ela.” Foi tudo muito orgânico, muito desordenado e muito caótico. Porque eu deslocava-me de um local para o outro para conseguir ver as pessoas que queriam conversar comigo. Viajava porque tinha muitas pessoas aqui na Europa. Vinha do Brasil para cá. Também ia para os Estados Unidos e de repente eu fiquei global. A atender pessoas por todo o mundo. E indicando outras pessoas que eu conhecia para complementarem o trabalho que estava a fazer. Quer fosse na nutrição com a Ayurveda ou com a osteopatia. Falava com os pacientes e percebia se seria melhor trabalhar com outros terapeutas, em conjunto, ou não. Cheguei a um ponto em que constatei e isso era insustentável! Não podia ficar de um lado para o outro. Precisava de ter uma base. Centralizar-me para criar uma energia, condensar essa energia e ser sustentável, ao invés de me deslocar constantemente para outros lugares. Foi isso que me inspirou a ter um lugar físico. Conseguir conter a energia. Porque eu sou sagitariana, que representa a expansão, a filosofia de vida, o voar como a seta (símbolo do signo de Sagitário) que vai para o infinito. Para viver cosmicamente, conhecendo-me, também tenho que começar a amadurecer e criar um equilíbrio. E vi que isso era insustentável. Surgiu esse desejo de me tornar sustentável. Para preservar a minha própria energia. Porque eu não posso falar de bem estar, de sustentabilidade, de hábitos de bem-estar a longo prazo, e estar sem dormir ou estar muitas horas num avião.
Há astrólogos que defendem que uma pessoa tem um signo solar, no seu caso Sagitário, mas que todos temos uma reunião dos doze signos. É da mesma opinião? Pode explicar-nos melhor?
Há um universo inteiro dentro de nós, o microcosmos. Há o macrocosmos e o microcosmos e existem os chakras. Os chakras são simplesmente vórtices de energia. Chakra em sânscrito é roda. E essa energia cria-se através de um contacto de um corpo sólido. Que no nosso corpo é representado pelas glândulas endócrinas como uma ramificação nervosa, que é um plexo nervoso. Tal como uma barragem gera energia, o nosso corpo é igual. Nós temos, por exemplo, a glândula da tiroide, o plexo faríngeo, e o contacto desse plexo nervoso cria uma energia. Tudo isso cria uma energia, um movimento, uma frequência. Então todo esse macrocosmos está em nós nesse aspecto. Nós temos sete chakras em relação com os planetas. Isso vê-se mais num estudo profundo de astrologia e de cosmologia. Temos todos os planetas dentro da nossa condição. No meu caso, o signo solar está em Sagitário mas a lua está em outra constelação, na de Câncer. Vénus em Capricórnio, então a forma de eu mostrar afeto é de uma forma capricorniana. A forma de eu mostrar as emoções é canceriana. A forma de mostrar a personalidade é sagitariana. A forma de mostrar a individualidade é de Balança. Porque depende das áreas da vida, e depende dos planetas que estão ativando essas áreas da vida.
E qual for a parte que a sediou, que lhe fez criar raízes, em Portugal?
Falando comicamente, duas coisas, ou melhor três coisas, porque temos que entender que também somos uma família. Não podemos pensar somente em nós mas também pensar no conjunto. Tanto o meu marido como o meu filho estavam a entrar num período de Saturno, que representa precisamente raízes, na casa nove que significa saída para o exterior. Para ambos simbolizava sair do seu lugar de nascimento, que é o Brasil. Era o momento propicio, o cosmos estava abrindo a oportunidade para saírem do país. E a mim, estava tocando na minha quarta casa, que é o lar, que são as raízes, o que nós queremos e o que nós projetamos para o futuro. As forças desse sistema familiar conspiraram para que eu conseguisse fazer isso, nesse momento. Não quer dizer que tinha que ser naquele momento. Mas nós já estávamos a contemplar a ideia de sair do Brasil, já fazia parte da nossa realidade. O cosmos deu esse auxilio, esse impulso para sairmos. Isso pelo lado familiar, pelo lado individual, Júpiter! Júpiter entrou em Sagitário a 14 de Novembro de 2018. Júpiter representa a expansão, a abundância, a jovialidade, o crescimento. E para mim, isso é crescer. Dentro do conceito, o que é Margaret crescer? Porque Margaret deixou de ser indivíduo, já não é Margaret, é Siendo. E Siendo não sou somente eu, são os terapeutas, é este espaço, são todas as coisas que compõem isto. Júpiter representa essa expansão e esse desapego. Já não sou somente eu a fazer a minha terapia. Agora somos uma equipa.
Na Siendo foram respeitados os princípios do feng shui, como se traduz no espaço?
Foi o Cauhe, o meu marido, que conceptualizou o espaço físico. Ele é arquiteto e professor de yoga. Trabalhou muitos anos em arquitetura mas acabou por se frustrar com esta área. Percebia que havia coisas na arquitetura que não iam ao encontro do bem-estar, do sentir-se verdadeiramente bem dentro de um espaço. Com o feng shui ele conseguiu apaixonar-se novamente pela arquitetura. Porque é um modo de arquitetura holística. Percebeu que a forma e os elementos que constituem um espaço são o mais importante para o bem estar das pessoas. Aqui na Siendo ele considerou o centro como o mais importante na concepção do espaço. O centro representa o vórtice onde a energia vai circular, para que não fique estagnada. Outro aspecto que ele também considerou foram os elementos, para fazer um ambiente agradável. Elementos quentes, aconchegantes como a terra e a madeira, incluindo também o metal. Esse equilíbrio entre os elementos e o centro, foram fortemente considerados aqui. Aqui o centro é onde está a mesa, aí as pessoas circulam entre as terapias, o yoga e a copa. É um lugar que tem um movimento constante.
Os princípios da Siendo são o autoconhecimento, o autocuidado e a autoexpressão. Como é que cada um destes princípios é abordado?
O Autoconhecimento, é feito através da aceitação. A pessoa entra aqui e tem que aceitar o momento presente. Aceitar a realidade como ela é. Pode, por exemplo, ser o caso de a pessoa dizer que não é capaz de fazer exercício, que não tem tempo para cuidar de si, porque tem filhos. A partir dessa realidade começamos a reeducar essa pessoa. Pode ser através do gerenciamento do tempo, do estabelecer prioridades, ou através da conexão com o corpo. Descobrindo quais são as ferramentas que precisa para passar para o autocuidado. Através da aceitação da realidade e da observação dessa realidade, no momento mais equânime, conseguimos encontrar as ferramentas que precisamos para cuidar. Para conseguirmos tratar. E aí passa-se para o Autocuidado. A Autoexpressão vem por sua vez desse processo de descobrimento e de cuidado. O autoconhecimento pode ser feito através de workshops, de eventos e de estudos que fazemos. São ferramentas de estudo. Precisamos estudar o ser humano, o que é ser humano. Ensinam-nos várias disciplinas, como a biologia ou a matemática mas não nos ensinam o que é ser humano. Não vimos com um manual de instruções. É muito importante estabelecer essa curiosidade e incentivar os ambientes de estudo. O Autocuidado aborda-se através das terapias, do yoga e de diferentes programas de health coach. Depois a Autoexpressão cabe às nossa pacientes, que queiram, partilhar um pouco do que descobriram nesse caminho.
O que nos oferece a Siendo – Boutique soul care e yoga shala?
Eu sou uma pessoa petite (risos). Como disse há pouco, Siendo é uma expansão minha, um reflexo meu e que considera a sustentabilidade. O que é que eu consigo sustentar? Eu não queria comprometer a qualidade de conexão que estabeleço com cada paciente. Foi por isso que conceptualizei como uma Boutique que oferece cuidados integrativos de uma forma taylor made (feitos por medida). Onde cada indivíduo se vê precisamente como uma peça única e individual. Não queria um espaço padronizado que se oferece a todas as pessoas indiferenciadamente. Porque o Hatha yoga é abordado de forma personalizada. Mesmo que as aulas sejam em grupo, cada um é um cosmos diferente. Então a Boutique vem nesse sentido, em que todos os pacotes são taylor made. Tudo parte de uma conversa muito intima com a pessoa para que eu possa perceber como health coach o momento presente dessa pessoa. O que a trouxe até aqui. E daí, juntas, começarmos a trilhar o caminho de autocuidado. Vemos como iniciar, se deve começar primeiro com um médico homeopata, acupunctura ou comigo. E assim vamos direcionando as pessoas para uma medicina integrativa e holística. Na medicina alternativa as pessoas vão a acupunctura, a uma massagem mas essas áreas não comunicam uma com a outra. E a visão da Siendo é oferecer uma equipa multidisciplinar onde, em conjunto, estabelecemos hábitos sustentáveis a longo prazo. Onde a pessoa sente que tem uma equipa a trabalhar juntamente com ela. Para conseguir reconhecer qual é o caminho que precisa nesse momento.
No site da Siendo pode ler-se “Olhar para a natureza e fazer do universo nosso aliado e trabalhar com ele.” É fácil, mesmo para quem vive num meio urbano como as cidades modernas?
Primeiro é uma questão de humildade. De viver cosmicamente, de entender que a natureza tem o seu plano. A conexão com a natureza tem a ver com o ritmo. Por exemplo, não dormir até ao meio-dia, porque a natureza já acordou. É acompanhar o ritmo do dia e respeitar esse ritmo. Há pessoas que dizem que são mais noctívagas, não é que sejam mais noctívagas. Essas pessoas já alteraram o próprio ritmo. E assim vão estar sempre contrariadas. Por exemplo, uma pessoa que acorde às dez horas da manhã ou ao meio dia; seja porque trabalha de noite ou porque gosta de dormir até tarde; o seu biorritmo humano e os ritmos circulares estão atrasados. Porque a natureza já acordou há algumas horas atrás. A natureza já está a criar, já está trabalhar e essa pessoa ainda está na letargia. Nós temos que começar a acompanhar o ritmo da natureza. E é um processo de humildade porque não podemos impor-lhe o nosso ritmo. É como se quiséssemos obrigar uma árvore a dar frutos no inverno. Temos que fazer da natureza uma aliada. Temos que acompanhar a natureza. O inverno é o tempo da reflexão, da introspecção. Deve-se acompanhar esse recolhimento da natureza, essa morte para avaliar. E quando chega a primavera, aproveitar para surgir. Para sair desse processo de introspecção. É muito lindo quando estamos em contacto com a natureza virgem mas nos centros urbanos também conseguimos isso. É tão simples, basta acordar com o dia. Temos as quatro estações da natureza num dia, quando acordamos é a primavera, o renascimento. Ao meio dia é o verão, naquele momento em que estamos a trabalhar a toda a marcha. Às 16h é o outono, ficamos um pouco mais cansados e depois a noite é o inverno. Devemos acompanhar isso. Entender que essa é a forma natural de viver.
Pegando nesse raciocínio, em que a primavera e o verão são o dia, representados pelo sol; e o outono e o inverno a noite, representados pela lua. Como é que o ciclo da lua afeta as nossas vidas?
Afeta porque setenta por cento do nosso corpo é linfa, é água, somos liquido. E o magnetismo da lua está diretamente relacionado com o elemento água. Que é outra forma de nos conectarmos com a natureza, através dos elementos, a terra, a água, o fogo e o ar. Por isso é que as marés sobem na lua cheia. A agricultura antroposófica (biodinâmica) também se regula com as fases da lua e nós somos seres orgânicos. Essas fases lunares quando estão em expansão ou minguando são afetadas por magnetismos. São frequências magnéticas que nos afetam diretamente.
Os ciclos da lua são encarados da mesma forma no yoga e na astrologia?
Há muitas vertentes de yoga tradicional em que se contempla a lua. Há várias praticas ou expressões do yoga, mas yoga é só um. O yoga é a busca dessa união entre o mundo objectivo e o mundo subjetivo. Na minha prática pessoal que é o Ashtanga yoga contempla-se a lua. Nos dias de lua cheia e de lua nova não se pratica yoga. É um dia de descanso, porque a lua está no ápice que é quando estamos a fazer uma troca de fluidos dentro do nosso corpo. Então a mente tende a estar um pouco dispersa. Está mais letárgica ou está mais aérea. Há uma tendência muito grande de não estarmos presentes dentro da prática do yoga. O que mais se procura no yoga é o estado de presença. Então com a maior ausência da mente, porque está acontecendo todo esse processo de transformação, pode haver uma tendência a pequenos acidentes e causar lesões ao corpo.
O que é a lua nova, em astrologia?
Sabemos que a lua não tem luz própria. É a luz do sol que a ilumina. A lua nova acontece quando o planeta Terra está entre o sol e a lua, fazendo-lhe sombra, por isso não se consegue ver a lua. É um momento para conseguirmos avaliar e renovar. Porque é precisamente o momento da sombra. Um momento de introspecção, para conseguirmos olhar para dentro de nós e ver onde estão as nossas intenções. O que está escondido. É um processo que nos motiva, que nos incentiva a ir verdadeiramente à nossa sombra.
Como é que podemos lidar com a energia da lua nova, em termos práticos?
Primeiro, é estarmos conscientes dela. Mais uma vez, acompanhar a natureza e não ignora-la. Ver onde está a lua, em que constelação. Se por exemplo, estiver em carneiro, perceber o que significa carneiro – faísca, conflito, energia – e assim começa a autoeducação. Com um processo de construção. Uma coisa leva a outra – é lua nova, está em determinada constelação, essa constelação significa… está em determinada casa, esta casa representa… – Isso é viver cosmicamente. É viver optimizando verdadeiramente o tempo. É saber que áreas se deve trabalhar nesse tempo. Isto é uma forma muito prática de trabalhar com astrologia, com as luas e com todos os outros ciclos planetários.
O que é a lua cheia, astrologicamente?
A lua cheia é quando o sol ilumina em todo o seu esplendor a lua. Esse é o momento de lidar com a nossa luz. Primeiro lidados com a nossa sombra, uma parte mais introspectiva e depois na lua cheia vemos se essa sombra se conseguiu iluminar verdadeiramente. Se conseguimos exteriorizar e maximizar, depois de se ter percebido qual seria a área a trabalhar. Mas isto é em termos muito gerais, porque depende outra vez, da constelação em que está situada. Do que esta constelação representa e depois o que isso representa em cada um de nós.
Mas também tem que haver aceitação, e entender que o que era já não é.
Qual é o projeto dentro da Siendo que ainda não integrou no seu plano de atividades e serviços e que sonha realizar?
Está quase para ser realizado (risos). Quase! Está no forno e não depende só de mim. Mas em pinceladas largas, sem dar muitos detalhes, tudo isto no final é para contribuir para a medicina preventiva. Porque nós vimos de uma cultura do medo, do medo da doença, do medo do acidente. E da prevenção através do medo. Não de uma prevenção através do amor próprio. As pessoas pagam um seguro médico porque têm medo que um dia podem acordar e ter um cancro, porque podem ter um acidente. Claro que isso pode acontecer. Mas ninguém paga para uma medicina preventiva para sustentar o seu bem estar. Ninguém tem esse amor próprio e esse valor próprio. Da mesma forma que se pagam apólices de seguros, porquê que não se dedica 100 euros por mês para fazer yoga, para fazer uma massagem, para ter uma rede de terapeutas para cuidar e ensinar a pessoa a cuidar de si? Essa é a minha missão, começar a reeducar as pessoas na medicina preventiva. Se alguém se amar tanto e não pensar que uma massagem é um mimo, não é um mimo, é um cuidado. Essa é a minha verdadeira missão. Aos poucos vamos trabalhando isso. Está quase, porque é entrar no sistema de saúde, de saúde publica, para que haja acesso para todos. Durante muito tempo a medicina convencional e a medicina alternativa debatiam-se muito. Está a mudar. Que esta aproximação tenha cada vez mais peso, com mais suporte científico e humano.
É fácil manter os seus princípios espirituais à medida que o negócio cresce?
Primeiro temos que aceitar a realidade. Dentro da aceitação da realidade temos que estabelecer prioridades e estar contentes com as coisas que vamos adquirindo, sem apego. Para mim, os princípios espirituais são aquilo que me inspira, o que me motiva a ser cada vez melhor. Cada vez mais autêntica, para me aproximar cada vez mais do falar a verdade sem ferir as pessoas. Tudo aquilo que me torna uma pessoa melhor. E o que eu tenho descoberto até agora é que são as ferramentas que me ajudam a tornar-me uma pessoa melhor. Tenho uma ferramenta que é a minha prática pessoal de yoga que eu adoro porque é o meu chão. Eu costumava praticar duas horas e meia de yoga, tinha esse tempo, tinha essa disponibilidade. Agora eu vejo que a minha pratica se reduziu a uma hora por dia. Mas comecei a aceitar. Isso é não ter apego e entender que houve momentos da minha vida que eu tinha duas horas e meia para isso e agora tenho uma hora. Mas nessa hora faço um culto interior. Cultivo o meu ser interior, conservando de uma forma sustentável aquela chama acesa. Porque não me adianta fazer duas horas e meia e depois gritar com toda a gente porque não tenho tempo para fazer outras coisas. Aceitar que a vida não é um dogma. A vida vai mudando e as prioridades também. Nesse momento aceitei esse desafio e só tenho que integrar as outras coisas da minha vida para que as consiga sustentar. Eu acordava às três da madrugada para praticar yoga, agora consigo falar de coração sincero e dizer que estava a ser puxado para mim. Com os desafios vem a adaptação. Não temos que comprometer os princípios espirituais porque, para mim, isso parte do principio de inspiração. A inspiração tem que estar sempre presente. Mas também tem que haver aceitação, e entender que o que era já não é.
Qual é o seu motto?
Ser genuína. Isso é um mantra, é acordar e saber se sou eu ou se é uma influencia. Uma das partes do yoga é a limpeza, o depurar o nosso sistema sensorial. Uma impressão pode causar um efeito bioquímico, quer seja físico, mental ou emocional. Criar uma reação; quero ou não quero; gosto ou não gosto. Porque flutuamos no julgamento dessas polaridades. Ao permanecer equânime conseguimos essa impressão. Ser genuíno é difícil porque nem sempre estamos presentes, estamos sempre reagindo ao que vem em nosso encontro.