Marcia Nazareth conta-nos em entrevista como se constrói uma marca de moda sustentável. A Nazareth Collection nasceu há oito anos e não para de crescer.
Por Sandra Dias
Em fevereiro deste ano a Nazareth Collection integrou a Sustainable Brand Plaform e a sua pontuação chegou aos cinco, numa escala de seis. Ser uma marca de moda (intemporal) sustentavelmente ecológica sempre foi o objectivo maior de Marcia Nazareth, a fundadora da marca. Que propõe nas suas coleções uma combinação de design, conforto, qualidade e materiais de origem sustentável.
A marca surgiu em 2013, quando Márcia decidiu juntar a sua experiência de designer gráfica ao sector da moda. Sem deixar de lado o seu gosto pela fotografia. Nas suas coleções vemos estampados os retratos de diferentes cidades ou paisagens de diferentes viagens. Este ano a viagem para a Nazareth fez-se no seu interior. Não existem retratos de lugares mas apenas a essência delicada de toda e qualquer mulher.
Também focada na Mulher, em particular nas jovens de São Tomé e Príncipe e Guiné Bissau, participou na campanha Stand by Her promovida pela Associação Dimix. Oferecendo 8% do valor das suas vendas (de 1 a 8 de março) para ajudar a combater a pobreza associada ao período nesses dois países.
Nos seus oito anos de existência, a marca tem evoluído e aumentado o seu propósito. Desde os prints digitais que dispensam a utilização de água, à utilização de materiais em dead stock. A Nazareth começa agora a sua jornada pela moda circular com o projeto sell 1 buy 1. Uma campanha que promove a circularidade da moda. Possibilitando a venda e compra de peças.
Esta entrevista foi realizada por email.
Qual foi a inspiração por detrás da Nazareth Collection?
A Nazareth nasceu em 2013, inicialmente com coleções temáticas de peças com fotografias de minha autoria produzidas em digital print, cuja inovação na altura era a impressão a 360 graus. O conceito era vestir uma fotografia. Desde então a marca foi evoluindo no seu conceito e nas matérias-primas utilizadas. Do poliéster à viscose, passando pelo algodão, lyocell até ao algodão orgânico.
A Nazareth Collection é inspirada nas minhas duas avós. A avó Aurora era mestre de guarda roupa cénicos e artísticos no Teatro Experimental do Porto. Já a avó Luz, esta foi a primeira empreendedora a ter uma empresa têxtil de plissados e sacos de cama. Herdei, portanto, de ambas a criatividade, a persistência e a inovação. Como também, e principalmente, o gosto por saber fazer durar uma peça de roupa e o sonho de a vestir como sendo única.
De que forma é que a Nazareth se distingue no mercado?
É uma marca que se preocupa com a compra consciente. Utiliza material parado nas fábricas, o chamado dead stock e peças reversíveis. Na sequência de querer tornar a marca ainda mais sustentável. Dar a oportunidade de comprar uma peça e ter duas utilizações, com dois lados. Para o conseguir, tenho três condições importantes: que a malha seja produzida num raio de 30 km do local da confecção, obtida a partir de dead stock e reversível.
Que outro material têxtil escolheria em vez do lyocell?
Melhor ainda só o que uso agora. O dead stock. Porque já existe. Não há necessidade de haver gastos em novas matérias primas. Há muitas fábricas com rolos e rolos de matéria prima parada.
Quem são os vossos principais clientes?
São mulheres bem resolvidas, tal como gostamos de dizer, emocionalmente sustentáveis. São mulheres que procuram peças que durem na qualidade e no conforto que proporcionam. Que procuram sempre uma compra consciente. Para consigo e para o meio ambiente. É uma marca que se preocupa com a compra consciente.
Qual é a vossa maior preocupação, ambiental, social e económica?
Todas elas. Uma marca sustentável não tem só a ver com a matéria prima que utiliza. É um todo. A empresa parceira também tem que ter responsabilidade social e dar condições de trabalho dignas e responsáveis.
Qual é o maior desafio que a moda enfrenta atualmente, à parte da Covid-19?
A Nazareth não é uma marca de moda [sazonal]. As peças que constrói são intemporais. Não há uma preocupação em fazer a coleção primavera verão. Existem coleções cápsula, com peças limitadas. De malhas e rolos parados. Por isso, quando termina essa peça, não há forma de a repor. O desafio é uma constante em qualquer parte criativa. Em qualquer modelo de negócio com uma componente criativa. Estar atento ao que vivemos, ao planeta, e construir algo melhor. Numa boa direção. Tento que a Nazareth Collection seja uma compra inteligente. Consciente.
Que mudanças gostaria de ver acontecer na indústria da moda como consequência do coronavírus?
Menos é mais. Menos consumo. Mais qualidade. Comprar menos. Mas melhor. Peças que durem uma ou mais vidas. Que passam de mãe para filha. Que tanto uma como a outra as possam vestir. Peças também unissexo.
Como define a sustentabilidade num mundo pós pandemia?
Inevitável. Esta pandemia veio exatamente de um mundo [comportamento] que tem de acabar. Com muito consumo e formas de consumo erradas. É um caminho sem volta. Há que querer estar próximo de marcas que estão na direção certa.
O que espera deste ano?
Mais informação. Mais transparência das marcas. Mais compromisso em fazer melhor. Mais verdade. Melhor consciência coletiva. Espero que possamos todos aprender
Quais são os vossos planos para o futuro?
Tantos! Criar mais produtos, mais parceiros/ fábricas com este alinhamento na produção. Continuar a construir uma linguagem cuidada e consistente. Juntar-me a marcas e pessoas, que aprenda e que cresça. O colectivo é sempre melhor.
Diga uma palavra que melhor descreve a marca Nazareth.
Autêntica!
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