A Catalyst em direção ao futuro na Keyhouse da Munich Fabric Start

Por Sandra Dias

A Catalyst participa na Keyhouse da Munich Fabric Start (MFS). Objectivo: acelerar a moda e a industria têxtil portuguesa em soluções de inovação sustentável.

Por Sandra Dias

Acertar os valores pessoais com os objectivos profissionais, podia ter sido a ponto de partida da Catalyst. Uma plataforma criada no inicio de 2019 com o objectivo de fazer crescer as marcas de moda nacionais com ADN sustentável.

Fundada por um grupo de empreendedores criativos, Kaleigh Tirone Nunes, Manuel Belchior e Joana Cunha, a Catalyst rapidamente cresceu. Ana Costa e Ana Ferreira juntaram-se à empresa, e são juntamente com Kaleigh Tirone Nunes a equipa executiva da Catalyst.

Os sólidos conhecimentos técnicos de economia circular, de regeneração e dos pilares de sustentabilidade, considerando o universo moda e têxtil, permite-lhes unir todos os stakeholders desta Indústria. Identificando oportunidades de negócio e estabelecendo parcerias sempre com o propósito de fazer escalar a responsabilidade e a sustentabilidade do sector.

As suas decisões baseiam-se na experiência de muitos anos que dedicam ao sector do ambiente e do pensamento sistémico. Acompanhando sempre os vários estudos associados à sustentabilidade, como o Cradle to Cradle, o Stockholm Resilience Center, a The Natural Step e o Future Fit Benchmark.

Assim como os relatórios anuais dedicados à industria da moda e do têxtil, como Pulse of the Fashion Industry (Global Fashion Agenda e The Boston Consulting Group) e The State of Fashion (Business of Fashion e Mckinsey).

Atentas a todas as mudanças neste sector e no campo da inovação sustentável a equipa da Catalyst viajou até Munique para participar na Keyhouse da Munich Fabric Start (MFS). Um laboratório de ideias dedicado à inovação no sector têxtil integrado na Feira MFS.

Onde durante três dias a moda e a indústria têxtil encontram respostas, direções e novas definições de inovação e de sustentabilidade. Num ambiente de Feira que promove as colaborações e o networking entre os visitantes e participantes.

Ana Costa fala-nos da primeira experiência internacional da Catalyst e como querem dar a conhecer e inspirar o futuro da moda portuguesa. De 4 a 6 de fevereiro, a Catalyst reforça o tema da MFS – A Paradigm Shift Towards Holistic Sustainability.

Esta entrevista foi editada e condensada para facilitar a leitura.

Ana Costa | Catalyst

O Papel da Keyhouse na Industria da Moda

Qual a importância da MFS Keyhouse para a Catalyst?
A Keyhouse é o nosso primeiro evento fora de portas. Onde pretendemos mostrar que Portugal é muito mais do que um País produtor têxtil. Queremos mostrar criatividade e empreendedorismo. Queremos apresentar os novos modelos de negócio e oportunidades que estão a aparecer num País que anteriormente era visto apenas com uma boa relação qualidade do produto/ preço. Esta oportunidade de apresentar a nossa comunidade numa Feira de Inovação e Desenvolvimento como a Keyhouse, é excelente para trazer um foco e uma curiosidade para Portugal, também com o objetivo de trazer mais negócio para as nossas marcas e indústria.

Como surgiu esta oportunidade de participarem e qual é o maior objectivo da vossa presença na Keyhouse?
A nossa presença em diferentes plataformas online, bem como a produção de conteúdos técnicos, quer em português, mas principalmente em inglês, consegue mostrar os nossos valores, o que acreditamos e a nossa visão para um futuro da industria têxtil e moda. Este espaço tem-nos trazido alguma visibilidade e foi assim que surgiu o convite por parte da organização da feira que já nos conhece de projetos anteriores. Para além disso, as empresas portuguesas do sector têxtil têm estado a trabalhar muito em Inovação e Desenvolvimentos mais responsáveis, o que tem dado visibilidade em mercados internacionais. Portugal começa a atrair atenção e curiosidade sobre o que melhor se faz em território português. Ficamos muito orgulhosas por ver o nosso trabalho reconhecido desta forma. Por termos apenas um ano e já termos presença internacional. Em termos de objetivos, pretendemos trazer negócio para o Pais. Mostrar a nossa comunidade, as nossas capacidades e mostrar o potencial do que podemos criar em conjunto

O que vão apresentar nestes três dias da MFS?
As nossas marcas e também todas as parcerias que temos estado a fechar nos últimos meses. Que são transversais ao sector. Desde media, consultoria, educação e organização de eventos. Um dos exemplos que acreditamos que irá surpreender quem nos visitar é uma aplicação que permite fazer uma visita virtual pelas nossas marcas. A Awatar desenvolvida totalmente por uma empresa portuguesa. Quase um cartão de visita virtual das marcas que permite aceder a descrições, mas também conteúdos visuais e ligação aos sites.

Munich Fabric Start 2020

A Industria Têxtil Portuguesa e a Sustentabilidade

O que estão as marcas de moda portuguesas a fazer atualmente para promover mais a sustentabilidade?
Temos muitas marcas a mostrar que é possível ter sucesso sem estar constantemente a apelar ao consumo. A apresentar 52 coleções anuais, que criam nas pessoas a necessidade de estar sempre a comprar. Na nossa comunidade temos também marcas a apostar em materiais circulares (que são retirados dos oceanos, das praias, dos aterros) para criar produtos baseados em modelos de economia linear. As marcas Catalyst são marcas a produzir em Portugal. Um país com fortes componentes sociais e laborais (que não ocorre em todos os países). Que assegura que não há trabalho infantil, escravatura ou que as pessoas não comprometem a sua integridade física no simples ato de ir trabalhar, como ocorre noutros países produtores têxteis.

Que tipo de mudanças a industria da moda nacional precisa fazer ou estar atenta para se destacar nos mercados internacionais?
Acreditamos que é essencial reduzir a distância de Portugal para o resto do Mundo. É muito importante a existência de interlocutores em países estratégicos a mostrar a nossa capacidade de trabalhar em rede. As nossas soluções. Os últimos desenvolvimentos que nos permitem estar na linha da frente e que permitem um maior equilíbrio entre consumo de recursos e necessidades da procura. E nada melhor do que uma pessoa próxima, com conhecimentos sólidos de sustentabilidade e do sector, a trazer validação e confiança para o mercado português.

A tecnologia está a mudar a indústria da moda. O que podemos esperar de uma industria mais automatizada e que impacto a revolução da robótica terá no desempenho da sustentabilidade?
Idealmente maior eficiência na produção e no consumo de recursos. Menor desperdício. A produção on demand poderá permitir reduzir a quantidade de roupa que é produzida sem ser vendida (estimativas de consumo não estar adequadas com o consumo real). Há que explorar também a oportunidade de novos materiais e matérias primas, totalmente tecnológicas, que sejam mutantes. Que se adaptem às nossas necessidades sem ser necessário ter ou comprar mais do que o estritamente necessário.

Os fabricantes/industria estão uns passos à frente em questões de sustentabilidade. Que tipo de informação é comunicada ao crescente número de consumidores preocupados?
Os consumidores, cada vez mais preocupados, estão a pedir cada vez mais transparência. Querem saber a origem das matérias primas, os países de produção e em muitos casos, a localização concreta das produções. Sentimos que a criação de valor para o consumidor que anteriormente era muito baseada na “marca” da peça confecionada, está a “andar para montante”. Hoje em dia, as confecções e tecelagens (e em alguns casos os fios), estão a tornar-se marcas em si. Que o consumidor valoriza, quer conhecer e traz valor. Tudo isto está a ser integrado nas peças acabadas. Seja nas etiquetas, em QR codes, ou mesmo nos sites das marcas onde são identificadas as cadeias de contratação, ou mesmo, fotografias das pessoas responsáveis pela produção.

Mudanças, Prioridades e Estratégias Para o Futuro

Nem sempre é fácil chegar ao grande publico através do discurso da sustentabilidade. Como é que esse tema se pode tornar mais mainstream para que os consumidores possam entender melhor as suas complexidades?
Tudo se trata da forma como a mensagem é passada. Cabe-nos a nós da industria e ligados ao sector, descomplicar a forma como falamos de sustentabilidade. Trazê-la a publico de forma mais inclusiva, divertida e cool. Usar formas honestas e transparentes, para que as pessoas criem ligações fortes, de confiança. Que percebam que é necessário e urgente actuar quer na produção, mas também no consumo. E que essa parte, a responsabilidade tem de ser partilhada.

Como pode uma empresa de moda, grande ou pequena, implementar mudanças no seu modelo de negócio até à missão de sustentabilidade?
Segundo o relatório Pulse of Fashion de 2019, o maior drive para a sustentabilidade em moda (inovação e desenvolvimento), tem sido feito pelas maiores marcas; sendo mais difícil para uma pequena marca/ empresa adaptar-se a esta nossa consciência/necessidade da produção. No entanto, estas grandes marcas necessitam de grandes volumes de negócio para ter os revenues que lhes permitem ser de sucesso e subsistir num mundo cada vez mais agressivo e com maior concorrência. É um equilíbrio muito difícil de gerir. Que obriga a um acompanhamento atento e muito próximo de cadeias de contratação (e subcontratação), conhecer muito bem a cadeia de valor. E nesse aspeto as marcas pequenas têm maior vantagem que as maiores. Mas para que a mudança aconteça e que seja verdadeira, é necessário que seja uma ferramenta da marca e não apenas uma estratégia de comunicação.

Como é que a Catalyst trabalha para guiar os líderes dessas marcas a fazerem da sustentabilidade uma prioridade estratégica?
Portugal é já um pais muito responsável na produção têxtil, quer ao nível do consumo de recursos (como água e energia), quer ao nível das condições de trabalho. Sentimos que esta indústria está a fazer um caminho notável, existindo já muitos prémios internacionais que muitas vezes não chegam ao conhecimento do público em geral. Temos partilhado a nossa visão em publicações que divulgamos na nossa plataforma. Sentimos que nos está a unir ao sector em Portugal, mas também a mostrar o potencial da indústria portuguesa em outros países que têm curiosidade, e agora passam a perceber a possibilidade de um plano estratégico. O fato de termos um escritório em Nova Iorque, tem permitido isso também. E é aqui que acreditamos que está a nossa grande diferença. Acreditamos que podemos mostrar tudo o que a nossa industria é, as possibilidades que trás. A facilidade de um interlocutor a defender a nossa industria e marcas num país como os Estados Unidos, pretende que a mudança da sustentabilidade como prioridade estratégica aconteça em países que não são tão responsáveis como o nosso.

Keyhouse da Munich Fabric Start | ©MFS

E como é que se consegue que os consumidores se identifiquem com a missão?
Cada vez mais os consumidores procuram marcas verdadeiras, com propósitos e valores muitos bem definidos. Com os quais se consigam interligar e criar uma relação duradoura. Marcas que se transformem em bandeiras. No futuro, as relações serão bidimensionais e não de apenas um sentido como se tem verificado até agora. O consumidor tem o poder e vai cada vez mais aperceber-se disso e exigir alterações às marcas.

Onde é que se investem os recursos de tempo e dinheiro, e também a reputação das empresas para se economizar os recursos limitados mais importantes do planeta?
É muito importante a percepção que existem recursos que são renováveis e outros não o são. E que a maior parte da industria se baseia neste últimos. Não renováveis. Finitos. O grande investimento a ser efetuado é nesta transformação – na transição para uma economia e industria que permitam a reutilização contínua dos mesmos recursos. E isso passa quer por alterar as matérias primas base da produção (para biodegradáveis ou infinitamente recicláveis), mas também por trazer formas de produção baseadas em circularidade, como recirculação de água tratada para os processos, ou mesmo energia renovável para produção. Num planeta com recursos irrepetíveis, é a única forma de se alcançar uma produção saudável, em equilíbrio com o planeta.

Será que a Industria da moda consegue realmente mudar?
Acreditamos que sim. Meramente porque é necessário. Com o aumento da população global associado ao facto de também estar a crescer o poder de compra. Se a industria não fizer alterações, vai deixar de ter recursos para produzir. A mudança é necessária para assegurar o Futuro e a prosperidade.

Que resultados esperam conseguir com a vossa participação na Keyhouse da MFS?
Essencialmente queremos mostrar às marcas da nossa comunidade que estamos a crescer e que os estamos a levar connosco. Queremos ter visibilidade para a nossa empresa, mas também para os que em nós confiam e nos seguem. Acreditamos também que este é mais um passo para mostrar internacionalmente que somos mais do que eles esperam de nós (enquanto País com tradição têxtil). Que estamos a iniciar o trabalho em rede, a acelerar para a sustentabilidade e que somos um parceiro de confiança. Para qualquer marca. Um país de soluções, não apenas de produção.

Criatividade, tecnologia e transparência associadas podem ser a chave da solução para um futuro mais consciente em relação à moda? Porquê?
Temos de encarar o momento crítico que o nosso planeta está a viver de forma séria. A tecnologia associada a criatividade pode ser uma solução. Pelas transmutáveis, que se adaptam à nossa personalidade, mood do dia, ou temperatura exterior. Tudo com uma única peça. Que no final de vida, estará pronta para ser reciclada e dar origem a outra. Peças otimizadas pela possibilidade de reutilização diária, sem sentirmos que estamos sempre vestidos de igual. Esta será uma das possibilidades de garantir um menor peso no planeta associado à produção têxtil. O que poderá resolver a questão do consumo excessivo, do aumento da população e do rendimento médio da população mundial. Todos os dias iguais, mas sempre diferentes. Interessante, não é?

Qual é o motto da Catalyst para uma moda mais sustentável?
A Catalyst pretende explorar as fronteiras que existem entre todos os stakelholders moda. Fronteiras que permanecem por explorar e que são desperdícios na industria por não estarem a ser utilizados na sua plenitude. É nestes espaços que pretendemos criar. Especialmente parcerias que permitem sucesso a todos. Responsáveis. Sentimos que queremos preencher o vazio de cor. É este o nosso motto.

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