10 perguntas sobre desenvolvimento sustentável respondidas

Por Sandra Dias

Damos as respostas a tudo o que sempre quis saber sobre sustentabilidade. 100 questões em 10 semanas por 10 entendidos, para tirar todas as dúvidas.

A sustentabilidade tornou-se uma ferramenta importante no combate às alterações climáticas e aos desafios sociais e económicos da atualidade. Já ninguém lhe é indiferente, mas será que todos sabem o que significa sustentabilidade? A quantidade de informação online pode ser esmagadora e muitas vezes com dados confusos. Por este motivo, colocamos 100 questões a 10 entendidos em cada uma das diferentes áreas que envolvem a sustentabilidade: perguntas gerais; impacte ambiental; desenvolvimento sustentável; sustentabilidade corporativa e empresarial; estilo de vida; moda e design sustentáveis; consumo responsável e energia. Respondidas semanalmente, para tirar todas as dúvidas e ajudar a iniciar ou a continuar a jornada rumo a um futuro mais sustentável.

Perguntas sobre desenvolvimento sustentável

Por António Vasconcelos, fundador e General Manager da NEW-NEXT, Chairman do Board of Directors da The Natural Step International, e Co-Leader Planetiers New Generation (programa de transformação 2030).

1O que é desenvolvimento sustentável?
É fazer evoluir toda a atuação humana e em particular toda a atividade económica dentro de limites ambientais e sociais. É como que aprender a jogar xadrez, perceber o que significa sucesso ou ‘check-mate’ – chamemos-lhe neste caso ‘check-thrive’! Neste caso, significa empreender sem violar nenhuma condição de sistema. Inovar o negócio totalmente dentro de limites (boundaries) sociais e estes completamente envoltos pelos ambientais (Figura 1.). A meta mínima (como que o ‘break-even’ extra financeiro) é ‘net-zero’. O que parecia ser uma utopia até a Comissão Europeia ter estabelecido esse objetivo a atingir o mais tardar em 2050, com níveis de exigência grandes já para 2030.

Nested Circles, por Future-Fit Business.
Figura 1. Nested Circles, por Future-Fit Business.

2O desenvolvimento sustentável aplica-se a todas as esferas de atividade?
Sem dúvida. Para tudo teremos de ter atitudes que promovam essa forma inovadora de viver dentro de limites para benefício dos outros e do planeta se quisermos que a humanidade perdure. O que requer que cada um de nós aceda a conhecimento e se equipe de competências para caminhar para futuros sustentáveis ou, desejavelmente até, regenerativos. Todo um novo papel a desempenhar pela educação, a apostar muito em particular nas camadas mais jovens. Para a criação de líderes ajustados ao futuro, para servir e não para se servirem!

3O que é a Agenda 2030?
Após ter lançado os oito objetivos do Milénio em 2000, as Nações Unidas (ONU) procederam a uma avaliação dos progressos obtidos e criaram a referida Agenda, constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a prosseguir até 2030. Todos os países assinaram este compromisso, o que por si só representa algo de extraordinário. Os ODS abordam várias dimensões do desenvolvimento sustentável – económico, social e ambiental – bem como a promoção da paz, da justiça e de instituições eficazes, devendo a sua implementação resultar de trabalho conjunto de governos e cidadãos de todo o mundo.

4Quem criou os objetivos de desenvolvimento sustentável?
Como referido na questão anterior, trata-se de um trabalho colaborativo no âmbito da ONU, cometendo todos os Governos mundiais.

5Quais são os ODS?
Numa estruturação realizada pelo Stockholm Resilience Centre, os 17 ODS são apresentados em ligação com círculos encaixados uns nos outros (o tal conceito de ‘nested circles’ referido e ilustrado na Figura 1.), representando os níveis económico, social e ambiental. Esta representação dos ODS surge como um ‘bolo de noiva’, em que mais importante que descrever cada ODS é apresentar essa imagem (Figura 2.). De salientar que os 17 ODS se desdobram em 169 metas.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (2030), numa estruturação pelo Stockholm Resilience Centre.
Figura 2. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (2030), numa estruturação pelo Stockholm Resilience Centre.

6Como é que os ODS têm vindo a ser implementados?
Das mais variadas formas, até porque envolvem todos os países mundiais. No fundo, é suposto os ODS estarem nas políticas de Governo mundial. Mas sabemos que existe em muitos casos um fosso entre apresentação de políticas e objetivos vs. a sua implementação. No caso, de um bloco como a União Europeia (UE) – que se propõe ser líder mundial em desenvolvimento sustentável, alavancada na estratégia Green Deal (publicada em 2020 com metas mais exigentes para 2030, o mesmo ano dos ODS, o que não é por acaso) – existe um trabalho considerável de articulação entre os seus atuais 27 países para um desenvolvimento em linha com esses grandes objetivos. Mas mesmo assim está longe de ser perfeito.

7Como se monitoriza o progresso dos ODS?
Mantendo-nos no exemplo de vanguarda e com expressiva dimensão da UE, que se pretende estabelecer como um líder, de facto, tem de dispor de mensuração e monitorização ao nível de cada país. Sem isso não há como compreender qual o atingimento de resultados ao longo do tempo. Tentando antever o que poderá ser atingido a um determinado ritmo e onde será necessário introduzir medidas corretivas. Instituições estatísticas, como o Eurostat na UE, desempenham um papel essencial na recolha e uniformização de informação por grandes regiões, complementadas por relatórios de análise de progresso como o Sustainable Development Report, por Jeffrey Sachs et al, com quadros de evolução como o excerto apresentado na figura 3.

Europe Sustainable Development Report 2020, Sachs et al.
Figura 3. Europe Sustainable Development Report 2020, Sachs et al.

8O que pode acontecer se não alcançarmos os ODS?
A Agenda 2030 e os ODS constituem uma visão comum para a Humanidade, um contrato entre os líderes mundiais e os povos, e uma ‘to do list’ do que fazer em nome dos povos e do planeta. Os pontos de situação que vão sendo realizados sob a égide da ONU têm mostrado grandes ‘gaps’ em termos do progresso que seria requerido para vir a atingir os ODS em menos de 10 anos. Por outro lado, acentua-se o fosso na evolução de países mais vs. menos cometidos – e não forçosamente ricos, como é o caso da anterior administração norte-americana em negação face às alterações climáticas e não interessada no Acordo de Paris. Se tal acontece, o que esperar de países considerados muito menos desenvolvidos, em particular os que possuem regimes em permanente crise e/ou não democráticos?

9Qual é a diferença entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável?
Considero que Sustentabilidade é o estado requerido a atingir a partir de uma definição fundada na ciência – como mínimo, um negócio deve assegurar o ‘net-zero’, ou não ter qualquer impacto negativo ao longo de toda a cadeia de valor na qual tem responsabilidade. Significa uma situação em que estaria a operar dentro de limites sociais e ambientais – uma visão progressiva de futuro requerido. O conceito Desenvolvimento Sustentável consiste, em meu entender, numa jornada de evolução ao longo do tempo para concretizar esse futuro requerido. Um negócio ou organização para não se perder no processo evolutivo deve partir de um ponto de vista futuro de sustentabilidade. Desenvolver um processo de ‘backcasting’ do futuro para o presente, para se compreender os gaps existentes vs. situação atual e como os fechar fazendo uso de programas de inovação.

10O que podemos fazer, como cidadãos, para que o desenvolvimento seja mais sustentável?
O primeiro aspeto, é todo o cidadão equipar-se em termos de conhecimento. O que representa como que novas lentes e que permitem ver a realidade de novos ângulos. Para atuar dentro de limites, não num ponto específico de uma cadeia de valor, mas tentando ir às causas de insustentabilidade. Por exemplo, de que me serve ter um carro elétrico se usar eletricidade a partir de fontes não renováveis? Sendo a temática complexa, existe enorme desinformação, por vezes sob a capa de tabelas científicas, com números mostrando que este material é pior que um outro para fazer um dado produto. Pois bem, raramente esse “apontar de dedo” se tem provado como rigoroso. Sendo claramente preferível falar de gestão sustentável de materiais em detrimento de materiais sustentáveis. Os consumidores e a sociedade em geral encontram-se assim perante grandes desafios sobre que comportamentos adotar.

Nesse sentido, integro a liderança da Planetiers – um movimento para ajudar as transformações a empreender. Com a disponibilização de conhecimento avançado sob diversas formas, partindo de suportes aparentemente tão simples quão fábulas para as crianças ou vídeo cartoons para todos. Neste último domínio, de salientar o trabalho que a Planetiers New Generation tem vindo a desenvolver com um parceiro canadiano na criação do canal YouTube ‘Sustentabilidade Ilustrada’. Falado em português e expondo com conhecimento avançado, em vídeo cartoons com duração média de 5 a 8 minutos.

Os remoinhos verdes e azuis no Mar de Bering revelam a parte inferior da cadeia alimentar do oceano. Organismos microscópicos chamados fitoplâncton, que são importantes para as populações de peixes, podem ser pequenos demais para serem vistos individualmente, mas em grande número são visíveis do espaço. As nuvens brancas na imagem parecem bolhas num aquário.
Mar de Bering | Photo: USGS @unsplash
Mar de Bering | Photo: USGS @unsplash

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