A diretora de CSR da Mango, Beatriz Bayo fala-nos da jornada da marca rumo à sustentabilidade, dos seus valores e do compromisso da empresa com a comunidade e com a cadeia valor.
Por Sandra Dias
O que mudou na Mango desde a primeira coleção Committed, em 2017?
Mudou, sobretudo, a percentagem da produção anual de peças Committed. Depois do lançamento da primeira coleção Committed, após um ano, conseguimos que dezoito por cento da totalidade das peças produzidas passassem a ser Committed. Em 2020 aumentámos a percentagem para quarenta e cinco por cento e em 2021 atingimos os oitenta por cento da produção. Este ano, 2022, ambicionamos que cem por cento das peças sejam Committed.
Quais são as maiores dificuldades face às questões da sustentabilidade (social-ambiental-económica) que o grupo tem enfrentado?
Na Mango, estamos numa jornada constante rumo à rastreabilidade da cadeia de valor, rumo à redução de emissões [GEE], rumo a uma melhor gestão dos recursos hídricos e em direção a um melhoramento da nossa relação com a biodiversidade. E isso tudo apresenta-se sempre em forma de desafios que envolvem aprendizagem e trabalho contínuos.
Estamos conscientes do impacto ambiental dos nossos produtos. E em linha com os nossos objetivos e compromissos internacionais, trabalhamos peça a peça para um futuro da moda mais responsável e sustentável, o que é um grande desafio, dado o nosso modelo de negócio.
Trabalhamos para responder a este desafio, para o qual identificamos três aspetos fundamentais a trabalhar: o design com critérios de eco-design, a prioridade dos materiais mais sustentáveis e os processos de produção com menor impacto ambiental. Além disso, decidimos perseguir o objetivo de nos tornarmos líderes nas mudanças que esta indústria necessita, juntando-nos às principais coligações internacionais neste domínio, designadamente o The Fashion Pact (2019) e ao Fashion Industry for Climate Change das Nações Unidas (2020).
O que é necessário para se tornarem uma empresa mais sustentável, em especial com menor impacto ambiental?
Como mencionei anteriormente, é importante trabalhar com três aspectos fundamentais em mente: criar designs com critérios de eco-design, dar prioridade a materiais cada vez mais sustentáveis e apostar em processos de produção com menor impacto ambiental, tal como o que a Mango desenvolveu para melhorar a gestão de água.
Desenvolvemos uma estratégia de gestão de água para reduzir o nosso consumo e melhorar a eficiência, tanto nas operações da empresa quanto em toda a nossa cadeia de suprimentos. A estratégia de gestão hídrica da Mango aponta como principais objectivos, o controlar e otimizar o consumo de água nas nossas instalações. Aplicando critérios de eficiência energética, informando e treinando as equipas da Mango sobre o risco hídrico. Ao implementar boas práticas para um consumo mais sustentável de água e ao reportar o consumo anual de água nas nossas instalações.
Além disso, focamo-nos em monitorar e analisar o impacto do nosso consumo de água nos processos húmidos (tingimento, lavagem e acabamento) em toda a nossa cadeia produtiva. Dando prioridade ao uso de fibras mais sustentáveis e com menor consumo de água (ex.: fibras recicladas), e a processos mais sustentáveis de produção com melhor gestão hídrica.
Quais são as metas e os principais objectivos para as atingir?
Nossos objetivos são:
– Reduzir o impacto ambiental da coleção, desde o design do vestuário até a seleção de materiais e seus processos de fabricação.
– Introduzir critérios de design circular na coleção Mango e otimizar o ciclo de vida de todos os nossos materiais/desperdícios.
– Reduzir o impacto da empresa no meio ambiente, incluindo a sua pegada de carbono, eliminar ao máximo o uso de plástico e ajudar a proteger os ecossistemas e sua biodiversidade.
– Trabalhar para a rastreabilidade de nossa cadeia produtiva, incluindo o uso de materiais e comunicar o nosso impacto de forma clara e transparente.
“Atualmente, 8 milhões de peças Mango contém fibras recicladas” – Desses 8 milhões que percentagem é feita a partir da reciclagem resultante da recolha feita nas lojas – SECOND CHANCES?
Nenhum. Tudo o que é recolhido nas nossas Caixas Committed, contentores localizados nas lojas Mango para recolha de roupa usada, é doado e processado no centro de recuperação e reciclagem da Koopera. Onde os têxteis são devidamente triados para serem reutilizados, reconvertidos em novas fibras ou reciclados para novos usos como isolamento, tapetes de carro ou resíduos para energia. A Koopera é membro da Moda Re, um grupo de cooperativas de iniciativa social e organizações de integração laboral sem fins lucrativos, promovida pela Cáritas.
A coleção de jeans tem sido onde a marca consegue obter maiores resultados de gestão de recursos (materiais têxteis, consumo de água e de energia). Esta coleção de jeans já é desenhada sob os princípios da economia circular?
Em 2020 a Mango criou um grupo de trabalho para identificar todas as oportunidades de economia circular na empresa, tanto para a coleção Denim quanto para as outras coleções das nossas diferentes linhas.
Esta equipa trabalha e lança as bases para a implementação de critérios de economia circular na empresa, prestando especial atenção à nossa coleção, e focando-se em três áreas prioritárias: resíduos pós-industriais, resíduos pré e pós-consumo, e uma estratégia close the loop. Estamos a trabalhar na implementação de ações para reduzir a criação de resíduos e resíduos associados à produção das nossas roupas, quer na coleção Denim ou nas restantes, e geri-los com responsabilidade. Reciclando-os e em caso algum, destrui-los ou descartando-os [ao enviar para aterros].
Qual é a maior ambição em relação à sustentabilidade por parte do grupo?
Decidimos perseguir o objetivo de nos tornarmos líderes nas mudanças que este sector precisa em relação à sustentabilidade. É por isso que trabalhamos todos os dias para perseguir os objetivos mencionados acima.
Qual é o motto da Mango para a sustentabilidade?
A nossa visão de sustentabilidade: um compromisso com uma jornada. Na Mango, vemos a sustentabilidade como uma jornada que a indústria da moda deve fazer para alcançar uma sociedade mais justa e reduzir o seu impacto ambiental e social no mundo.
