10 perguntas sobre estilo de vida sustentável respondidas

Por Sandra Dias

Damos as respostas a tudo o que sempre quis saber sobre sustentabilidade. 100 questões em 10 semanas por 10 entendidos, para tirar todas as dúvidas.

A sustentabilidade tornou-se uma ferramenta importante no combate às alterações climáticas e aos desafios sociais e económicos da atualidade. Já ninguém lhe é indiferente, mas será que todos sabem o que significa sustentabilidade? A quantidade de informação online pode ser esmagadora e muitas vezes com dados confusos. Por este motivo, colocamos 100 questões a 10 entendidos em cada uma das diferentes áreas que envolvem a sustentabilidade: perguntas gerais; impacte ambiental; desenvolvimento sustentável; sustentabilidade corporativa e empresarial; estilo de vida; moda e design sustentáveis; consumo responsável e energia. Respondidas semanalmente, para tirar todas as dúvidas e ajudar a iniciar ou a continuar a jornada rumo a um futuro mais sustentável.

Perguntas sobre estilo de vida sustentável

Por Pedro Norton de Matos, fundador do Greenfest e do Bluefest.

Esta entrevista foi editada e condensada para facilitar a leitura.

1O que é o estilo de vida sustentável?
Eu creio que o estilo de vida sustentável é uma harmonia com a natureza e tem a ver com comportamentos. Ao longo de um dia temos N oportunidades de ter comportamentos sustentáveis. Naturalmente que o somatório destes comportamentos levam a hábitos que levam a um estilo de vida sustentável. Uma pessoa, desde que acorda – para pensar o que seria um dia típico de uma pessoa – tem logo na opção do seu pequeno almoço (se o tomar) de fazer escolhas que tenham um impacto na sustentabilidade e num estilo de vida saudável.

Na escolha do transporte estão também opções e alternativas que têm impactos distintos. Depois, as refeições que se fazem ao longo do dia, dentro ou fora de casa; a mobilidade ou um estilo de vida mais sedentário. São N as opções que temos que imprimir um cunho com os tais comportamentos mais ou menos saudáveis. E portanto, o somatório de comportamentos saudáveis levam a hábitos saudáveis que levam a um estilo de vida saudável e sustentável.

2É essencial que o ser humano se torne mais ligado ao ambiente para caminhar em direção à sustentabilidade?
Acho fundamental. Vivemos numa era chamada de Antropoceno e temos uma visão antropocêntrica. No fundo, temos uma visão em que tudo gira à volta do Homem e que o Homem é o Master of the Universe. Porque somos nós, de uma forma um bocadinho arrogante que classificamos o que é bom e o que é mau. O que é erva benigna ou erva daninha e o que é animal que se pode matar e o que é animal que não se deve matar

É importante que tenhamos consciência que fazemos parte de um ecossistema que tem animais, plantas e outros seres vivos. E é nessa harmonia que nós devemos, de facto, viver. E nesse sentido, acho que pagamos muito caro o virar as costas à natureza. A natureza é um laboratório vivo que tem quatro mil milhões de anos, e nós, de uma forma humilde e integrada neste ecossistema, temos muito a aprender com a natureza. Porque somos parte integrante da natureza.

3Como é que o estilo de vida sustentável afeta a nossa qualidade de vida?
Partindo de uma perspectiva muito integrada e holística, temos desde logo, a vertente da saúde e do bem-estar. O estilo de vida saudável e sustentável levará seguramente a opções e a escolhas que sejam saudáveis para a saúde. Saúde individual e depois, se quisermos, saúde da comunidade e também a saúde do planeta. Porque claramente as coisas estão ligadas. A saúde do planeta está ligada à saúde dos seus habitantes e a saúde dos seus habitantes influencia a saúde do planeta. Há uma relação muito direta com a forma como nos integramos e lidamos com a natureza, como a manipulamos, com a tratamos e como exaurimos os seus recursos.

A questão das monoculturas extensivas, por exemplo, estão ligadas ao estilo de vida e à produção de proteína animal. Sendo que a maior parte dessa produção acontece em ambiente de domesticação. Hoje em dia já se come mais peixe “domesticado” do que peixe selvagem, em ambiente natural. E naturalmente o mesmo acontece com as vacas, com as galinhas, com os porcos e etc. É nesse ambiente que a nutrição tem muito a ver com o estilo de vida. Como é sabido, o modelo de produção industrial de proteína animal leva a que todo o ciclo de produção, desde a monocultura do milho e da soja, apenas para dar o exemplo, seja para alimento de animais. E a pegada ecológica deste processo é extremamente pesada para o ambiente, com repercussões uma vez mais para a própria saúde – apanhamos o efeito boomerang –.

Esta produção industrial leva à utilização de antibióticos, como prevenção e não como tratamento de uma eventual doença dos animais. Que imediatamente vêm parar aos humanos. E o mesmo se passa com as hormonas de crescimento que são dadas para que a produtividade seja muito maior na produção da proteína animal. E a montante, nas monoculturas intensivas utilizam-se grandes quantidades de fertilizantes e pesticidas para evitar ou eliminar pragas e torná-las mais produtivas. Só que além de uma perda enorme de biodiversidade, dá-se a erosão dos solos, pondo em perigo e em risco produtividades futuras. Portanto, tudo isto está ligado.

4Que regalias ou privilégios da sociedade moderna podemos prescindir em prol da sustentabilidade, sem comprometer a nossa qualidade de vida?
Essa é sempre uma questão. Porque é sempre mais difícil quando temos regalias e privilégios adquiridos. Nomeadamente, quando isso se reflete nos nossos hábitos, nos nossos estilos de vida. Acho que é mais uma questão de consciencialização e naturalmente as gerações mais novas encaram de uma forma diferente de gerações mais velhas. Eu dou o exemplo da minha geração, que é uma geração mais velha. Não fomos criados nem crescemos num ambiente de ter um determinado tipo de preocupações; não tínhamos informação nem conhecimento em relação à escassez ou à limitação de muitos dos recursos naturais.

E hoje em dia, com o avanço da ciência, do conhecimento e da descodificação do próprio genoma da fauna, da flora, da terra, do mar; progressivamente vai-se conhecendo e percebendo que é uma questão de consciencialização. De que temos que encontrar um equilíbrio. Então como é que este equilíbrio pode ser encontrado? Desde logo, eu acho, que é através de um redesenho – rethinking design, dos produtos e dos serviços que nos rodeiam. Porque a maior parte desses produtos, quando foram concebidos e desenvolvidos, tiveram seguramente em mente preocupações de funcionalidade, de ergonomia e outros factores mas não incorporaram (em muitos dos casos) o factor ligado a temas da sustentabilidade.

É completamente diferente se pensarmos que no redesenho de produtos e de serviços estes passam a ser utilizados muito mais vezes. E costumo perguntar, se um gato tem sete vidas, por que um produto não há de ter tantas ou mais vidas que um gato? E aí combateremos o single-use plastic e então podemos pensar que as coisas devem ser desenhadas para durar mais tempo. Porque há uma perversão – e eu sou economista e sinto esta perversão entre outras muitas – dos modelos de desenvolvimento que temos vindo a adoptar. Que é a perversão da obsolescência programada, que é desenhar para durar menos ou pouco tempo.

Começa também a haver legislação para um novo direito que é o right to repair. Que dá aos consumidores o direito de exigir junto dos fabricantes – durante um período determinado de tempo mais alargado – a garantia de que o objecto ou produto comprado possa ser reparado, que existam peças e que tenha um desenho que permita essa reparação e reutilização. Mas é uma coisa que lhes está a ser imposta, porque os fabricantes entraram nesta lógica da tal perversão economicista da obsolescência programada.

No conceito de sustentabilidade está o equilíbrio entre a área ambiental, social e económica. Durante muito tempo, parecia que estas áreas eram separadas. Mas não. A perspectiva aqui é muito integrada e holística. De pensar que o conceito de sustentabilidade tem estes pilares – ambiental, social e económico – interdependentes. Então temos que encontrar um equilíbrio. E esse equilíbrio é conciliável com o poder ter determinado tipo de bem estar. Aqui o discurso não é voltar à idade média, é no fundo, reconhecer que há um conjunto de ganhos civilizacionais grandes.

Por exemplo, o carvão trouxe-nos até aqui desde a revolução industrial. Por outro lado, temos que pensar que o carvão tem uma fatura muito elevada e que pode virar-se contra nós. Que aliás já está a virar e a prejudicar a saúde, e no limite à extinção da espécie humana. Sendo a sustentabilidade um desafio intergeracional na coexistência de várias gerações com hábitos, comportamentos, privilégios e regalias distintas, podemos ir encontrando um equilíbrio que junte o melhor dos dois mundos. Sem prescindir do bem estar, num modelo de equilíbrio de desenvolvimento, que nós tenhamos a possibilidade de conciliar estes diferentes aspectos que referi. Escolhas que tenham um menor impacto ambiental e que preservem a saúde também do próprio planeta.

5Quais são alguns exemplos de estilo de vida sustentável?
Desde já a questão da mobilidade. Nós vivemos num mundo global. A lógica da globalização e da mobilidade planetária que também já começa a ser extraplanetária, portanto é um exemplo, o das opções que fazemos na mobilidade. Depois, a alimentação. Temos aqui opções e perceber que enquanto consumidores fazemos opções todos os dias e tal como na democracia, um voto conta. E eu diria que nós enquanto consumidores, cada dia estamos a fazer opções na compra ou recusa de produtos e de serviços.

Estamos constantemente a votar. E é um voto na sustentabilidade ou na não sustentabilidade. No caso da alimentação, não só pelos alimentos que consumimos como também no desperdício ou não, desses alimentos. Na forma como os adquirimos, por exemplo, aqui entra muito o packaging – a embalagem. Depois na questão do percurso, da distância que estes alimentos percorrem. E ainda a questão do desperdício. Infelizmente nós desenvolvemos uma economia de desperdício. Nós desperdiçamos água. Em Portugal cerca de um terço da água potável é desperdiçada. Desperdiçamos alimentos, desde a semente até ao descarte, desperdiçamos também um terço da produção alimentar.

Desperdiçamos energia, mesmo as energias naturais. A construção dos edifícios que habitamos e frequentamos têm um enorme grau de ineficiência energética. Cá está uma vez mais o redesenho (rethinking design). Desperdiçamos muito dessa mesma eficiência energética na forma como construímos e nos materiais que usamos. E depois – eu acrescento também esta dimensão que me parece importante – o desperdício da energia, do talento e da capacidade das pessoas na cidadania ativa que se espelha na comunidade.

Como também os desperdiçamos em termos profissionais ou nas profissões que exercemos. Quantas e quantas pessoas estão subutilizadas, desvalorizadas, desmotivadas e que não estão a dar o potencial de contributo que têm? Nós vivemos numa sociedade de desperdício. Tudo que seja desperdiçar menos e no limite, não desperdiçar nada, é uma forma de vida saudável e sustentável. Todos os dias temos oportunidades, como dizia no início da conversa, de ter um estilo de vida e comportamentos que tenham uma repercussão positiva nestas vertentes, ambiental, social e económica.

6O que é uma cidade sustentável?
Uma cidade sustentável é uma cidade que procura um equilíbrio grande entre eficiência, eficácia, qualidade de vida e o bem-estar dos seus habitantes. Fala-se muito nas Smart Cities, que utilizam tecnologia que funcione muito mais como um meio facilitador, e não como um fim. Eu diria que uma cidade sustentável é uma cidade que aproveita ao máximo os recursos naturais, o sol, o vento e a chuva. Que tem um diálogo muito íntimo com a natureza, portanto, tem muitos espaços verdes, porque isto está claramente demonstrado que tem a ver com a saúde e o bem-estar das populações.

Essa será uma cidade onde as pessoas se sintam bem no seu viver e que possam desenvolver as comunidades onde se inserem. Agora o que é que se verifica na prática e na realidade é que o desafio é muito grande. Porque havendo uma concentração grande de produtos e de serviços, eu diria que se verifica um paradoxo dos paradoxos. Por exemplo, os locais mais caros de vida numa cidade, e agora vou falar em Portugal, em Lisboa. Uma das artérias mais caras por metro quadrado de Lisboa é também onde se respira pior. Eu estou a referir-me à Avenida da Liberdade. Que à mercê do desenho da configuração da cidade e dependendo depois de outras condições atmosféricas, é uma das piores zonas da cidade onde se respira pior e paradoxalmente é das mais caras.

Há esse paradoxo, e essa para mim, não será uma cidade sustentável. E depois vamos para Xangai, para as cidades da Índia, Calcutá, Bombaim que são cidades que têm uma péssima qualidade do ar. Morrem por ano milhões de pessoas com afecções respiratórias, independentemente do covid, por ano morre mais gente com afecções respiratórias. Em números oficiais morreram cerca de cinco milhões de pessoas com covid em cerca de dois anos. E morre onde? Nos países desenvolvidos, morre nas grandes cidades. O tal paradoxo, sobretudo nas grandes cidades que se respira mal e nos países em vias de desenvolvimento.

Morre-se também em ambientes rurais, onde as casas não têm sistemas de exaustão de fumos e as pessoas para se aquecerem e cozinharem produzem libertação de gases nocivos. O desafio é muito grande de construir cidades. E o que as tendências e as projeções para as próximas décadas nos revelam é que há cada vez mais pessoas a viver nas grandes cidades. As Mega Cities são uma tendência e um fenómeno não tanto europeu, mas mais africano, asiático e de outros continentes. Se o ponto de partida, quando falamos de cidades sustentáveis é pensar que a maior parte das pessoas vive hoje e no futuro mais ainda viverá nas grandes cidades, portanto, as grandes cidades têm um grande desafio de se transformarem em cidades sustentáveis.

Onde haja uma boa saúde, um bom bem-estar, uma boa felicidade, uma boa alegria de se viver nesse ambiente e das comunidades estarem agregadas. Uma cidade sustentável tem por exemplo, uma rede de transportes muito eficaz que leve ao incentivo de os utilizar e que desincentive os transportes individuais. É uma cidade que tem os seus circuitos de distribuição nomeadamente de alimentação de forma a minimizar a pegada ecológica, e por aí fora. Cria as próprias condições porque as cidades também têm dimensão e massa crítica que permite uma melhor organização dos fluxos, do que se cada um fizer per se.

7Quais são os principais fatores responsáveis pela insustentabilidade global?
Claramente o que se verifica é que a ação do Homem, no seu modelo de desenvolvimento, é o responsável pela insustentabilidade mas também é o responsável por encontrar soluções para a sustentabilidade. Eu acredito muito no Homem e na perspectiva da educação, da investigação e do desenvolvimento, acredito neste factor. Porque se o Homem é o causador do problema, o Homem também pode criar as soluções. Está aqui o factor de esperança. Verifica-se que nós tivemos uma grande aceleração da insustentabilidade a partir da Revolução Industrial.

O modelo que adotamos durante a era do carvão levou a que fossemos progressivamente criando os tais problemas de insustentabilidade. Que chega ao ponto de, hoje em dia, consumirmos mais recursos do que a regeneração desses recursos. Como Lavoisier dizia, “Na natureza nada se perde, tudo se transforma”. – “Tudo se transforma” – A regeneração leva tempo para se transformar. Nós aceleramos muito e isso tem muito a ver com as alterações climáticas.

Por definição o planeta está em constante mutação, os continentes afastam-se, aproximam-se. Isto é uma realidade dinâmica mas nunca se passou, desde que há registos, ao ritmo e à velocidade a que se passou a partir da Revolução Industrial e sobretudo a partir da década de cinquenta do século vinte. Que coincide com o pós segunda guerra mundial e dá-se uma aceleração da sociedade de consumo. Que mais tarde muitos autores começaram a chamar de hiperconsumo e onde entram as tais perversidades da obsolescência programada, como referi há pouco. – Um grupo alargado de cientistas mundiais fez uma representação gráfica, desde a Revolução Industrial e em especial da década de cinquenta.

Por um lado, temos os indicadores socioeconómicos e do outro lado, o impacto na natureza. Então verifica-se de forma gráfica uma total coincidência, uma relação de causa e efeito, uma correlação positiva entre os indicadores socioeconómicos e o impacto na natureza. No gráfico dos indicadores socioeconómicos estão o aumento da população; o aumento do PIB; o consumo de energia; entre outros. Muitos deles como dizia antes, contribuíram para ganhos civilizacionais. A questão do acesso à saúde, a evolução no domínio da saúde, a diminuição da mortalidade infantil e outra.

O aparecimento de N ganhos como o acesso à educação, com um crescimento brutal na década de cinquenta. E depois ver o outro lado, o impacto na natureza. Porque os gráficos crescem em paralelo. Aparecem dois gráficos perfeitamente colocados um em cima do outro. As emissões de CO2; as emissões de GEE; a acidificação dos oceanos; a perda de biodiversidade; a corrupção dos ecossistemas; tudo é em paralelo. – Claramente é a ação do homem, a tal questão antropocêntrica desta era do Antropoceno, que provoca esta insustentabilidade.

É a mão do Homem que leva a desequilíbrios e a assimetrias profundas. E então a esperança é que seja através da mão do Homem, através da educação, da investigação, do desenvolvimento e da adopção de movimentos, nomeadamente quando se fala de economia circular regenerativa e de economia da partilha. Que todos esses valores associados a conceitos e a valores de sustentabilidade possam corrigir essa insustentabilidade. Uma vez mais, não de costas mas pelo contrário, abraçando a natureza. E sentindo-nos integrados no ecossistema e na vida diversa do planeta, nós possamos de facto ser sustentáveis. Isso garantirá a nossa sobrevivência e perpetuação.

8O que é a sustentabilidade local?
Nós vivemos num mundo global e podemos ver aqui várias dimensões, e podemos ir do particular para o geral ou do geral para o particular. Podemos ir do micro para o macro cosmos e vice-versa. O que eu quero dizer com isso é que por exemplo, a responsabilidade começa no indivíduo e de como cada um de nós atua no seu local; seja em casa; na rua; no bairro; na cidade; no escritório; no país e acreditando no condomínio da Terra seja uma forma global. Temos o potencial de ser um agente de mudança. De ter a capacidade transformadora.

A sustentabilidade local é o exercício dos valores da sustentabilidade quer em termos individuais quer em termos colectivos de comunidade circunscrita a uma determinada geografia. Quando falamos na economia circular nós podemos aplicá-la a um determinado local, porque é mais circunscrito mas sabemos que tem uma implicação global. Para mim, é isso. A sustentabilidade local é uma das dimensões, porque nós podemos considerar o local, a Terra como podemos considerar a Europa. É relativo. Mas podemos pensar do geral para o particular ou vice-versa. O ‘Local’ é o referencial. Pode ser a Terra como pode ser um local geograficamente, um pontinho.

9Qual é o maior obstáculo no caminho para a sustentabilidade?
Tratando-se de um equilíbrio e o próprio conceito de sustentabilidade é o equilíbrio entre três pilares, ambiental, social e económico. O obstáculo é que um desses pilares se sobreponha. Tal como um banco de três pernas, se uma das pernas se partir, o banco cai. Se uma perna estiver bamba, a sustentabilidade do banco é logo posta em causa e é isso que se passa com a sustentabilidade. Esse sim, é um obstáculo.

É que haja um predomínio e tem havido – no modelo de desenvolvimento que temos vindo a adoptar – uma prevalência da economia sobre os outros aspectos. Como pode haver a questão social no âmbito de uma pandemia ou no âmbito de uma catástrofe. Que pode fazer um obstáculo, que a prioridade passe a ser salvar vidas ou, a preservar vidas ou, mitigar catástrofes e ficar para segundo plano o conceito integrado da sustentabilidade. Eu penso que é mais isso, sempre que não há um equilíbrio entre estes três pilares a sustentabilidade do conceito de sustentabilidade é posta em causa.

10Como é que esse obstáculo pode ser superado?
Passa muito por educação, formação, literacia. Passa muito por conhecimento. Transformar os dados em informação e a informação em conhecimento. A partir do momento em que há conhecimento – aqui está o factor de esperança – nós podemos atuar sobre esse conhecimento. E pôr a tecnologia ao serviço. Não a considerar como um fim mas pensar que vamos usar a tecnologia; a ciência; a investigação e o desenvolvimento; e a educação para as pôr ao serviço de um modelo de sustentabilidade. Que no fundo, crie um equilíbrio entre estes diferentes factores. É um desafio mas é um desafio que eu tenho a esperança que seja um desafio ganhador e estimulante.

É pensar no tal compromisso intergeracional que Gro Harlem Brudtland usou para definir a sustentabilidade, no Relatório Brundtland, que resume a ideia de deixar o planeta melhor de que o encontramos. Que é quase o espírito dos escuteiros, deixar o local igual ou melhor do que encontramos. Isto tem muito a ver com a herança que recebemos e depois com o legado que deixamos. Numa altura em que há um aumento da esperança média de vida – que nós queremos naturalmente que seja associado a qualidade de vida –, a consciência deste compromisso geracional pode ser a chave para escolhas mais solidárias, menos egoístas e de imediatismo. Porque padecemos muito do imediato, do egoístico e do narcísico. O compromisso intergeracional pode ajudar muito porque há um propósito que vai para além de nós próprios.

Glaciar Petermann, Greenland
Localizada na costa noroeste da Groenlândia, o Glaciar Petermann tem uma área de 1.295 km2. A língua de gelo flutuante do glaciar estende-se do canto inferior direito da imagem em direção ao centro superior. Com 15-20 km de largura e 70 km de comprimento, É o maior glaciar flutuante do Hemisfério Norte. Os comprimentos de onda infravermelhos revelam os tons de castanho-avermelhado do solo, nesta imagem de verão.
Glaciar Petermann, Greenland | Photo: USGS @unsplash
Glaciar Petermann, Greenland | Photo: USGS @unsplash

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